A poética Trilogia da palavra, de Mucane Silva

Desesperadamente apaixonado por poesia

Bem-vindo demais à Kuruma’tá, Mucane Silva! Compartilhamos sua paixão desesperada pela poesia e pelo vai-vem da palavra! Sua poesia é mais uma colaboração valiosa que nos chega pelo inbox mágico da kuruma’tá! Vem lá das terras da Paraíba, de João Pessoa, onde fica o Cabo Branco, desafiando o Atlântico e as distâncias!


Maquinári[d]o

Pensa
Pensa
Pensa

Escreve
Escreve
Escreve

Gritavam incansáveis.
mas a mão não obedece

Pensa
Pensa
Pensa

Escreve
Escreve
Escreve

Mas, não
sabem eles que a escrita é manufaturada
Fratura-se a alma do texto
em alinhamentos regrados

A escrita é desengonçada
ziguezagueia
entre o que é
e até onde vai
a mão cambaleante

Pensa
Pensa
Pensa
E as máquinas encaixam
os ossos nos papéis mortos

Perde-se a criação.
A vida e as vísceras
do que se escreve
Escreve
Escreve escreve

Escreve-se o quê, afinal?

 


Calo

o som distoa
a glote se aninha em fuga
e a voz já não sai [como antes]

Nós
empurrados goela abaixo
me dão indigestão

reviram-se, cá dentro
enlaçados
não encontram saída
um após o outro
Nós

a garganta reduz-se
ao mais estridente silêncio
que a rompe

 


Pendendo da boca

A palavra guarda
os mais astutos subterfúgios
Quieta
à espreita. Desliza
em dança na boca
Hip
no
ti
za
Seduz
pronta
pra dar
o
Bote



Professor e poeta, M. Kenne é graduado em Letras – Francês e especialista em Língua Francesa e suas Literaturas pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Tem na palavra o ofício e o reduto, acumulador de histórias, desesperadamente apaixonado por poesia e pelo vai-vem das palavras… que nunca se acabam. Nasceu em outubro de 1997 na cidade de João Pessoa (PB), onde reside e compôs sua primeira coletânea de poemas, “Verter-se em Caos” (2022), pela Editora Triluna.

2 comentários

  1. A sensibilidade desse jovem escritor nos toca a alma, é um convite a emoção e a reflexão. Sou suspeita a falar sobre, sou mãe desse artista. orgulho imenso dessa preciosidade.

  2. Ao artista, parabéns pelo ótimo trabalho. A literatura brasileira agradece a existência dessa nova voz. Nem é mais necessário desejar-lhe sucesso pois ele já é o próprio sucesso. No mais, luz!

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