Fogo nos lampiões: Arco é o novo e comovente trabalho de Marcos Sacramento Revista Kuruma'tá, 13 de dezembro de 202413 de dezembro de 2024 Texto de Toinho Castro Nos tempos dourados pré-pandemia, quando uma turma de poetas e etcéteras se reunia ali na saída do metrô da Carioca, sob a égide solene da ACACANCACA (Academia Carioca dos Acadêmicos Cariocas e Não Cariocas da Carioca), estávamos, pois, a discutir algum tema vibrante quando junto a nós, no corre-corre daquele ponto de passagem, um moço bonito, animado, de dread, exaltou-se ao passar por nós, gesticulante: Mas o que é essa reunião? Seria uma Academia?! Do jeito que veio, entre cumprimentos e gestos efusivos, seguiu no fluxo que se impõe no rush das tardes. Rimos muito e brindamos. Era o Marcos Sacramento que passara por nós. Certamente ele não recorda desse episódio, perdido na confusão de tanta noite e tanto dia. Mas se as mesmas noites e dias não tivessem dispersado a ACACANCACA, estaríamos hoje, nessa tarde maravilhosa, conversando sobre ARCO, esse disco maravilhoso que ele acabou de lançar, em pleno novembro passado, enquanto se aproxima o verão. À falta de uma mesa de chopes na Carioca, o que faço, sentado em frente ao computador, em Vila Isabel, é compartilhar ao máximo link do disco, no streaming, com minhas amizades e membros da ACACANCACA, na aposta de que isso vai tornar o dia dessa gente muito melhor. Arco dá vontade de dançar e cantar, e vem carregado de uma profunda alegria, portador que é do Brasil que corre pelas ruas, becos, comunidades, morros, areias do Rio de Janeiro. Disso tudo que cresceu em volta da Baía da Guanabara. Um disco de quem passa pela Carioca e fala com estranhos. Arco é de conexões, de encruzilhadas e encontros. Isso tá no repertório, no rico arranjo de gentes que tecem a trama de canções em que a voz de Sacramento se espalha, com emoção e brilhantismo. É um disco comovente, de dores e carnavais. Abre um arco… sim, um arco, de gerações, que vai de Cazuza, Todo amor que houver nessa vida, auspicioso dueto com José Ibarra, passando por Baden Powell, Josyara, que traz sua Bahia – Rio e sua voz para o disco. Rio, Niterói, a ancestralidade do Salgueiro. Passado, presente e futuro, elegantemente alinhados e entrelaçados em onze canções impecáveis. Luminosidade contra a escuridão é o que eu deixo, por fim, sobre esse disco. É uma afirmação da criatividade e sonoridade universal do povo brasileiro. Desculpa aí, mas Arco me deixou emocionado. Música