Os teus espelhos rodopiam em meus pulmões: 4 poemas automáticos de Anna Apolinário

Quem está de volta à Kuruma’tá é a poeta paraibana, de João Pessoa, Anna Apolinário. Sua poesia é muito bem-vinda à nossa revista. Estes poemas integram Beijos de Abracadabra, uma série de 25 textos automáticos escritos no tempo limite de 5 minutos, durante 5 noites. A série de poemas constitui o capítulo de abertura do poemário bilíngue Furor de Máscaras ( Cintra/ARC Edições, 2021) escrito em parceria com o poeta Floriano Martins, o livro está disponível em Ebook Kindle na Amazon.

Poemas de Anna Apolinário


O CÉU DINAMITA O DESVARIO EM MEU PEITO

Sete vezes a noite desaba no arvoredo
O negrume salta ao redor do umbigo da terra
Raízes reviradas deslizam
Líquidas, em noites de absinto
Tua voz enlaça a cintura dos sóis
Minha cabeleira cintila delírios em Aldebarã

SANTUÁRIO DE ANGÚSTIAS

A luz em teu olhar desperta os enigmáticos chacras da existência
A sutileza de tuas confissões desperta incêndios em meus cílios
Rabiscas minha garganta com as sílabas da Sibila
Mamilos adormecem naufragados em tua boca
Os teus espelhos rodopiam em meus pulmões
Como estancar a sangria de tua sombra a meus pés?
O furor de Cronos furtou nossos destinos
Como ser o abrigo para a loucura de teus crimes?
O perfume entre meus seios abre fissuras na face de Deus

OS MUSEUS ESTÃO LAMBUZADOS PELA MINHA NUDEZ

As cascas da fome repassam seus vícios confessionais
Sobras de lábios vomitam véus indevassáveis
Minha pele, lâmpada maculando o cristalino écran
O castiçal da loucura faz cócegas nos hieróglifos
Aroma de alcaçuz, pomar opulento
A magia de teu sêmen engole os camafeus

A PUPILA DO LEOPARDO PULVERIZA ESPELHOS

Tua nudez pousada no sofá aguça os sentidos da noite
Tela transbordando uma abrupta ferida
As omoplatas magnetizam o magma dos continentes
Os volts violáceos de tua volúpia torturam minhas convicções
Adaga versátil vasculhando vigílias
Hemácias cósmicas assustam todos os segredos
Nossos olhos estão coagulados sob os estilhaços


Estes poemas integram Beijos de Abracadabra, uma série de 25 textos automáticos escritos no tempo limite de 5 minutos, durante 5 noites. A série de poemas constitui o capítulo de abertura do poemário bilíngue Furor de Máscaras ( Cintra/ARC Edições, 2021).

Anna Apolinário (João Pessoa, 1986). Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba, especialista em Língua, Linguagem e Literatura. Poeta, produtora cultural independente, organizadora do Sarau Selváticas, co-fundadora da Cia Quimera – Teatro & Poesia, colaboradora da Revista Acrobata – Literatura e Artes Visuais. Autora dos livros Solfejo de Eros (CBJE, 2010), Mistrais (Prêmio Literário Augusto dos Anjos – Funesc, 2014), Zarabatana (Patuá, 2016), Magmáticas Medusas (Cintra/Arc Edições, 2018), Las Máscaras del Aire (Cintra/Arc Edições, 2020), A Chave Selvagem do Sonho ( Triluna, 2020), Furor de Máscaras (Cintra/Arc Edições, 2021).


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