A morada

Texto de Ana Egito


Queria morar bem perto das nuvens, abraçá-las ao despertar e chorar junto ao seu orvalho, por pura emoção ou saudade de tudo e de tantos que ainda fervem em mim.

O céu é o limite do meu olhar, ávido, encarnado, na busca incessante das verdades que mudam o rumo das nossas vidas, na fé inabalável em um Deus que me permite ser melhor e mais confiante, frente às incertezas que rondam como sombra o cotidiano, o presente, nela, está o futuro que se abre aos meus pés. 

Tomada pelo desejo, absorta e presa aos meus pensamentos, posso ter deixado de me enveredar por amores soltos da vaidade, e por não serem assim, únicos e predominantemente genuínos de um encantamento puro e angelical, guardei-me em segredos só confessos às estrelas, tendo a lua como testemunha a não me sentenciar, os tempos idos, combinados aos hormônios que flagram paixões, deixaram suas lições para que na calmaria da maturidade em sua chegada, entendesse que o amor se propaga como a luz, trazendo vida onde os espinhos deixaram suas marcas, calmaria, onde muitos embates derramaram sangue, lucidez, onde dúvidas deixaram de assim ser, pois que o amor próprio se encarrega de trazer de volta o brilho nos olhos de quem só quer paz.

Ao fazer das nuvens meu palco sagrado, não me escondo, vôo, planando sobre a geografia que me encanta, nada é mais sublime que reconhecer-se em seu lugar, suas origens, ao mesmo tempo, me desfaço e me revolto ao ver ressoar os gritos que emudecem suas vítimas que ao chão, se ajoelham e rogam por um momento de luz, justiça, razão.

Foto de Ana Egito

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