Um cordel afetivo

Por Eduardo Maciel


Olá, meus queridos kurumateires!
É muita, nas muita felicidade para mim vir aqui hoje falar sobre cordel. Lembram que há tempos atrás publiquei uma entrevista com o grande cordelista Zé Salvador?
Então. Ele escreveu um cordel inteiro falando da minha vida, com xilografia e tudo, e esse trabalho foi laureado como quarto colocado no concurso de cordéis de Fortaleza no ano de 2020.
É puro afeto feito poesia, e por mais que seja bastante expositivo com relação a várias das minhas intimidades, me sinto em família por aqui, e vou compartilhar. Preparades?

“O INCENSO DA POESIA BORRIFADO
NA VIDA DE EDU MACIEL
 *
Deus no pretérito perfeito,
no eco, do indicativo
moldou de um barro sintético
em três D no aplicativo
do jeito que Ele bem quis
sem precisar de um motivo. 
 .
Foi no ateliê celeste
que Deus com cinzel de ouro,
esculpiu esse modelo
sem regateio de louro,
chamou um casal do bem
e lhe deu esse tesouro. 
 .
Translúcida inteligência,
– essa Inteligência Divina –
juntou sensibilidade,
com bastante adrenalina
com genes de boa estirpe,
devolveu “autamenina”              
 .
Pai, Luciano Videira,
se desmancha em alegria.
Mostrando veia poética
numa bela parceria,
com Sueli Maciel
tornou viva a poesia.
1
No dia cinco de outubro,
à fila dos nascimentos,
– Eduardo Maciel –
formava com mais “rebentos”,
das mãos do Supremo Artista
ganha um buquê de talentos.
 .
No ano setenta e oito, (1978)
na linda Rio de Janeiro,
– não nasce – estreia o menino,
do ventre duma Monteiro.
Sueli chora e sorrir
lhe dando o beijo primeiro.
 .
Para os “Maciel Monteiro”
foi alegria geral,
a festa estava estampada
desde a ida ao hospital.
O lar ficou mais bonito
com este ar maternal.
 .
Um cheiro bom de alfazema
daquele quarto exalava,
de forma que o incenso
pela casa se espalhava,
gostoso, um cheiro de paz,
banhando a quem visitava.
2
Porém, passou alguns anos,
e o menino já crescido,         
a normal necessidade,
houve, de ser inserido
nos estudos, e foi feito
do jeito mais merecido. 
 .
Estudou num bom colégio
aqui no Rio de Janeiro,
o tradicional São Bento,
dito, o melhor, brasileiro.
Nos estudos foi zeloso,  
estudava o tempo inteiro.
 .
Tão fissurado que era,
que os pais para puni-lo
por alguma traquinice,
adotaram como estilo
tirar-lhe das mãos os livros,
cobrando assim seu vacilo.
 .
Os livros que sempre foram       
seus companheiros diletos,
e disto ele se orgulhava,
não eram amigos secretos.
Os seus pais sabendo disso,
usavam poder de vetos.   
3
As pequenas traquinagens
não eram de grande usança.                                   
No rígido ângulo dos pais,
educação como herança,
puniam mandando ao “play”
pra ser um pouco, criança.      
 .
Para as artes já pendia
desde a sua tenra infância,
mostrando o amor aos estudos
e pela sua constância,
no agarramento aos livros,
pra eles dando importância.
 .
Foi no vasar da ampulheta
que o tempo se fez passar.
MACIEL bem nos estudos,
prestando o vestibular 
pra direito, se deu bem,
com o primeiro lugar.   
 .
Isto na UFRJ,
na colocação geral,
dando-lhe o poder de escolha.
Sendo mais perto o local
decidiu pela UERJ,
que pra si foi ideal.
4
A faculdade inicia,
agora em tempos agudos,
por conta de trabalhar
desacelera os estudos,
mas não abandona o curso,
os dois serão seus escudos.
 .
Sempre foi muito aplicado
em tudo que fez e gosta.
Foi destaque no colégio,
se na vida tem proposta 
desempenha, e com vontade
todas as fichas aposta.            
 .
Nas andanças por emprego
trabalhou na Air France,
depois em consultoria,
 – foi quase como um “freelance” –
também trabalhou na Vale,
teve após, crise em nuance.
 .
Esta crise se apresenta
entre quinze e dezessete,
e vem roubar-lhe o emprego
com um preparado escrete;
foi lhe consumindo os bens,
vestida como vedete.
5
Não satisfeita, esta crise,
o leva a consumação
e abuso de substâncias,
subjugado a tensão
começa um período brabo
de uma grande depressão.
 .
Esta luta não foi fácil,
brigou consigo e a razão,
ganhou o “ego sum qui sum” .
temperando a emoção,
fez o toldado assentar
com a fala de exaltação.
 .
Foi um anjo terapeuta,
que há tempos lhe acompanha,
que o fez partir pra a cura
através duma campanha,
com boa literatura:
“use sem fazer barganha”!  
 .
Com afinco estuda a lição
sem determinar um prazo,
procura lá nos primórdios
faz viagem ao parnaso;
dá conta, então, do recado,
não é coisa do acaso.
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São muitas experiências
que essa vida nos derrama,
pois é feito nau errante
que viaja e não reclama,
ensimesmado, esse Aedo,
agora as artes proclama.
 .
Feito a nau que singra mares  
com borrascas e precipícios, 
queima os miolos de Deus
que sempre faz sacrifícios,
nas suas eternidades
e o prendou com benefícios.  
 .
Trazendo para esse barco
diversos bons utensílios,
Deus brinca de vez em quando
e muda esses domicílios,
mas a nau nunca abandona
e de desmancha em auxílios.
 .
No endereço do silêncio   
traz a palavra não dita,
neste lugar que é sagrado
a criatividade habita,
se concreta ou abstrata
não tem na arte a desdita.
7
E despeja as sete cores
pintando o vocabulário,
pois cada palavra usada
se faz termo necessário,
pega sons, cores palavras,
os torna um só, voluntário !
 .
Manufatura os verbetes,
faz rococó e alinhavos,
traz arco-íris nas cores
de longe não faz agravos;
cirze bem seus argumentos  
faz com as artes conchavos.
 .
Numa peneira ou funil
passa as onomatopeias,
vocábulos mistura ao sons
criando novas ideias
ideias novas criadas
conquistam novas plateias.
 .
Despejada em lisa fôrma
é som, imagem, é tela,
pelas mãos do artista é feita,
e no ato, Deus se revela
no pensamento ou no traço,
duma simples aquarela.
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Seguindo a estrada dos sonhos
ou nas águas das lonjuras,
não traz traumas encrostados
criados em fundas luras,
enterra seus zumbis vivos,
vive as suas aventuras.
 .
Na vivenda do retumbo
Poe eco profundo e cavo,
reflexo do som grifado
do instrumento em conchavo,
que se atreve a rubricar
sem medo de ser agravo.
 .
Sem agravo esse argumento   
fala de novos projetos,
número sete, cabalístico,
com livros irrequietos, 
são sonetos inovados 
que não são nada discretos.
 .
Com amor ao diferente
se liga, assina contrato,
mistura o tradicional
como fez com “soneteto”
e com o “sonetimagem”,
este já serviu no prato.
9
Nos planos inda tem mais,
“sonetilustra”, o terceiro,
este fala com desenhos.
E o próximo companheiro,
é o “sonetom”, musicado,
vai virar som verdadeiro.
 .
O quinto é “soneterror”
que vem cheio de suspense,
o sexto é “sonetempero”,
este, ninguém o dispense,
pois traz um bom paladar
e nossa gula é quem vence.
 .
O sétimo é o “soneteatro”,
último dessa coleção,
que será feito em monólogos.
A sua composição  
é para ser encenado
com boa apresentação.
 .
Também na Kuruma’tá
faz suas publicações,
contos, matérias diversas,
e faz apresentações
com vídeos de entrevistas,
nalgumas televisões.
10
Com esboços navegantes
visita o campo das artes,
escreve com o mouse livre
fazendo parte das partes,
tem sua música inserida
e dela não faz descartes.
 .
Causando a perplexidade
com a visão de aventura,
é premiado em concursos,
em coletâneas, figura;
já ganhou títulos e prêmios,
com sua literatura.
 .
Eduardo Maciel,
um multimídia completo,
tem bastante seguidores
e este é um público seleto,
nas mídias que ele atua,
todos o seguem direto.
 .
A sua verve é versátil,
tem arte no coração:
Veste, dorme e come arte, 
arte é sua diversão;
prova disso é que ele a traz  
tatuada em sua mão.
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E foi numa certa noite
de autógrafos, pra ser exato,
que conheci Maciel
poeta E(du) “sonetato”,
incrível criatividade,
neste ele inovou de fato.
 .
As artes que ele pratica
mostra o artista de fato,
é de fato um bom poeta
e sabe tirar retrato;
Faz um som com maestria,
bonito sendo inexato
 .                                                                   
Nada que faz é perfeito,
– daí, sua perfeição –
dá recados criativos
e traz na palma da mão,
do seu  genes mais antigo
a sua continuação.                  
 .
No côncavo deste som,
traz a feitura do amplexo,
com imagem que rabisca
para servir de convexo
depois dessa obra pronta
até Deus fica perplexo.”

Eu achei o resultado final tão lindo e impactante, e ao mesmo tempo tão aderente, que acabei escrevendo um soneto para agradecer, vejam só:

E para completar a alegria, o cordel vem com um prefácio escrito pelo grande cronista, escritor de mão cheia, que também já trouxe aqui para que o pudessem conhecer. Leiam por favor as palavras de Erick Bernardes:

Da série: coisas que nunca imaginei que aconteceriam comigo. Espero que tenham gostado!
Fiquem bem, fiquem com saúde!