Direto de São Luís do Maranhão, a poesia de Vinícius Veloso

Você conhece poetas, escritos, artistas? Pois se sim, a gente tá aceitando dicas de todo o Brasil!

Mais uma vez, nossa amiga e poeta Micaela Tavares dá a dica da boa poesia maranhense para as páginas da Revista Kuruma’tá! E assim compartilhamos com você o trabalho bonito de Vinícius Veloso!

O poeta segundo ele mesmo:

Meu nome é Vinícius Veloso, tenho 32 anos, sou de São Luís – MA. Minha relação com a poesia tem por volta de 10 anos, o que coincide com a criação e a manutenção do meu blog de poesia (Papo do Poeta), que é um espaço em que eu considero seguro e onde eu posso ser livre para falar de todos os sentimentos que a vida me desperta. Gosto de falar principalmente de amor e de saudade, mas também da minha cidade, das pessoas que observo, de refletir sobre a vida…

A poesia é ampla e ilimitada, e a palavra delata qual a obsessão do poeta.

E agora sua poesia:


Andar no Centro é um exercício de descobrimento

Andar pelo Centro é diariamente
um exercício de ternura gosto de observar
os detalhes:
desde a escadaria recém pintada
até o sol que de tão presente chega a invadir a rua,
e de repente
aquele dia despretensioso começa a me chamar atenção então
vejo o taxista ocioso
vejo a vendedora de coco e velhinhos na praça
discutindo os rumos da nação.
Vejo os boêmios no mercado e o sorveteiro que assovia
e canta boi,
vejo os casais se amando
as bandeiras ao vento cantarejando e lembro de junho que já se foi.
Andar no Centro é diariamente um encantar-se e espantar-se
com o que ronda a nossa vista, vejo uma vez mais o sol
que ocupa e encobre a pista observo ao longe
o desembarcar
e o caminhar dos turistas, mas de perto a realidade grita
observo pessoas passando fome e vários dizeres e protestos
na parede que abriga poetas e artistas.
Andar no Centro é diariamente
um exercício de nostalgia,
vejo crianças correndo pelas ruelas
e empinando pipa
vejo carne seca na janela
e lembro de como a minha avó fazia, vejo os lavadores de carro escutando reggae
(que ecoa longe e toca bonito),
vejo a velhinha que caminha com dificuldade e em sua cabeça, uma tábua de pirulito.
Andar no Centro é diariamente
um exercício de pertencimento pois não importa para onde eu veja ou aonde quer que eu vá
eu sei que aqui é o meu lugar!

04.07.2019


A flor do abraço

A flor do abraço heliotrópica
busca à luz do sentimento a perfeita localização
um lugar onde não esteja a sós como as sépalas, cálices e pétalas que só funcionam juntas
na inflorescência dos girassóis.

A flor do abraço enlaçadora
como se braços fossem sempre abertos
e de prontidão estende suas folhas para que natural seja abraçar outra alma com o seu coração…

Instante esse em que o tempo para Zera! E quando recomeça
A flor do abraço já virou canção.

A flor do abraço
é a beleza do girassol
é o “carrossel das abelhas” como diz o poeta
em metáfora é a flor do sol que eu desejo sem aspas…

06.09.2018


Poema sobre o nada ou Tinha um prédio no meio do caminho

O prédio atrapalha a minha visão
a vontade de querer enxergar o mundo de azul de assistir às cinco e quarenta e cinco da manhã o pôr-do-sol ao contrário
cinza alaranjado rosa amarelo em contraste à feia arquitetura que transforma pedra sem vida
em colunas cimentadas que atrapalham a minha vista.

Eu quero enxergar bisbilhotar debaixo das pedras que não têm,
mas que abrigam:
vida.

Eu quero espionar
o verde musgo das briófitas
o desabrochar das borboletas
o cochichar dos bem-te-vis
a palavra voando fora da asa
o milagrar de flores

Eu quero atirar pedras no céu
e acertar algum homem de pecado que dizem ser santo

mas há um prédio no meio do caminho
arranhando o céu sem carinho
como um amontoado de pedras desperdiçadas que sequer abrigam musgo

no meio do caminho há um prédio que atrapalha minha visão
que tem nome de cidade europeia ou de um homem branco qualquer que minhas retinas fatigadas
traduzem livremente:

Ed. Dr. Zé Ninguém
Nunca esquecerei desse acontecimento…

Manoel de Barros me entenderia
Carlos Drummond de Andrade também.

25.08.2021


Zênite solar

Teu corpo
é floresta tropical quente
úmido esplendoroso dos pés ao topo é beleza viva jacarandá
que faz sombra em meu corpo.

Por ele passeio cuidadoso
e admirador
cubro-o de carinhos e beijos
até chegar ao teu umbigo
– que é a linha do Equador,
centro imaginário do (meu) mundo que o divide em dois:
um antes de ti, tempo passado e outro muito melhor, depois.

Em minhas mãos tu escorres
como seiva
a precipitar-te de prazer
molhando meus dedos como um céu emocionado quando começa a chover.

Sigo percorrendo o teu corpo até o limite do solstício
onde a vida tem fim e começo
mas eu estou só no início,

E o que eu tenho é amor para te dar
teu corpo no meu corpo encaixados perfeitamente é meio dia
é o zênite solar.

09.06.2020


O último suspiro

Quando eu for embora deste plano não desejo lágrima nem despedida por todo o amor e poesia que respiro uma coisa só espero da vida:
que seja um verso o meu último suspiro.

29.05.2016