A poesia de Nirlei Maria Oliveira na Kuruma’tá

Poeta e Bibliotecária com mestrado em Ciência da Informação, Nirlei Maria Oliveira nasceu em Formiga MG, e reside em Campinas, SP. Nirlei descobriu o caminho até a Kuruma’tá, para nossa gratidão e alegria, e nos oferece aqui 5 de seus poemas. Nirlei é Autora do livro de poemas Palav(Ar) (2021). Organizadora das coletâneas: Quarentena Poética (2020) e Cotidiano, Poesia, Resistência (2021).

Seja bem-vinda, Nirlei, ao recanto afetivo e guerreiro da Kuruma’tá!


Eu sou Alice de vez em quando

calma, Alice, sairemos deste looping
deste caos em tempo dos absurdos
destas manhãs que não amanhecem
e das noites solitárias e iguais

pois é Alice, o relógio parou
– “Ele mostra o dia do mês e não mostra a hora!”
estamos imersos em silêncio de angustiantes dias sem fim

corremos atrás do coelho há meses
estamos a desbravar novos rumos e trilhas
à espera morosa de sonhos e magias
por enquanto, Alice
apenas caminhar e caminhar
essa é a nossa jornada

somos reféns da Rainha e do Rei de Copas,
neste mundo paralelo de acasos e imprevistos

onde está a porta na árvore?
a passagem para o retorno ao normal?
estamos perto, Alice…falta pouco

por enquanto, estamos apenas aguardando
dias de festas com o chapeleiro maluco
afinal, “O segredo, querida Alice,
é rodear-se de pessoas que te façam sorrir o coração.
E então, só então que estarás no país das maravilhas.”

*frases com aspas foram extraídas do livro Alice no País das Maravilhas de Lewis Caroll.


Caminhos

desvios e margens
andar viajante
sujeito e objeto
refém
das sutis emoções

poeta
que bebe e cheira
nas bordas das palavras
ávido
em sua gula
embriaga-se com letras

para nos desvios
bordeja no desconhecido
vez ou outra
atravessa vãos e frestas
de espinhosos caminhos

viaja no tempo e espaço
busca a potência poética
a palavra que seduz
que embala
que contrapõe e resiste

grita nas vazias praças
persegue ressonâncias


Mundinho particular em dias estranhos

é pela manhã
que dou conta do meu mundo
nas regularidades dos afazeres

rotineiramente
cuido das plantinhas
leio partes de um livro
vejo jornais pela internet
assisto às séries boas e ruins
escrevo um poema ou menos que isso
penso no que fazer para o almoço
só penso – detesto cozinhar
assisto às aulas pela internet
videoconferências do trabalho
muitas conversas nas redes sociais
olho a rua através da janela
vejo pessoas com máscaras
tenho medo
volto a pensar em bordar


Estrelas no café da manhã e suco de laranja

peço pouco
apenas as estrelas que brilham no escuro da noite

no café da manhã:
suco de laranja e pão de ontem

desejo linhas de fuga
do agora

quero a(s)manhã(s)
com explosão de luz(es)
entrando nos seus olhos
e nos meus


dizeres de amor

o amor precisa de palavras
sem elas, não prospera
não cria o visgo das gameleiras
o grude, a cola dos afetos

palavras de amor
são cheias, redondas
repletas até a bordas
que transbordam
e caem pelos vão dos lábios
em calorosos beijos

palavras de amor são inscritas
descritas em suaves desenhos
na epiderme
benditas que sejam ditas
pelas bocas
e
línguas
com ávidas palavras de amor


Nirlei Maria Oliveira tem poemas publicados nas revistas: Travessias Literárias, Cult – Lugar de Fala, Literatura e Fechadura, A Palavra No Agora do Museu da Língua Portuguesa, Literatura Brasileira no XXI, Partilhas Poéticas do Museu Ema Klabin, Acrobata, Tamarina Literária, Aboio, Ser MulherArte, Ruído Manifesto, Sucuru, Errancia (Universidade Nacional Autônoma do México), Desvario, Entreverbo e Revista Toma Aí Um Poema!.

Tem poemas nas antologias: Enluaradas(2021), Mulheres Maravilhosas I e II (2021), Na força e no grito, na palavra persistimos!(2021 ), Casca, Azeda e Doce: 1 Coletânea da Revista Tamarina Literária (2021), Nascer pela Segunda Vez (2021), Mulherio das Letras para Elas ( 2021), Infâncias (2021), Comer é um Ato Político (2021), Poetizando em Pirituba (2021), Estrada para os domingos (2021).

Participou da EXPOSIÇÃO | Para fazer poesia hoje: a desdomesticação do olhar e Poesia de Rua. Participa dos coletivos: Mulherio das Letras, Mulheres Maravilhosas e Nua Palavra.

Tem poemas nos podcast: Quarentena Poética, Revista Errancia… la palabra inconclusa, da Universidade Nacional Autônoma do México, Tomaaium poema, Poesia para os ouvidos e Rádio Graviola.