A ventania na janela são flores pra ela Revista Kuruma'tá, 2 de setembro de 201930 de dezembro de 2019 Para Bia Cardenas Texto de Eduardo Frota Era madrugada quando o vento, inquieto e insistente, deu início ao seu intento. Os sopros tentavam balançar as bordas das cortinas para descortinar o amor, a entrega, a conjunção carnal – o mundo inteiro que cabia naquela microesfera que era o quarto do casal. Ele queria entrar. Forçava os vidros da janela sem perceber que ela estava completamente fechada. Ao malogro, subiu corrediço pela fachada e procurou por uma fresta na porta. As pancadas se tornaram incessantes, barulhentas, desafiando o silêncio das horas. Lá dentro, o casal aos sussurros. Lá fora, o vento aos murros. Em sublime união, os amantes permaneciam despercebidos. Havia, entretanto, um buraco na fechadura. E para tanto, o vento logo se tornou uma fugidia linha, intermitente e aguda, regendo uma espécie de sinfonia quase muda. Quase… Acalmado, já dentro do quarto, rodopiou pelo ar e envolveu o casal à beira do êxtase. Arrepios. Dois longos suspiros. O vento avoado achando que foi ele quando, na verdade, havia sido o destino. A ContoCrônicaEduardo FrotaLiteraturaPoesia