Duas badaladas para as duas da madrugada

Texto de Eduardo Frota


Os sinos estão tocando. Você escuta também? É uma espécie de hino que inunda o tímpano. Consegue ouvir os timbres? Tateiam livres o ar até entrar no escuro da cabeça, outrora oca. Ouça! Os sinos estão tocando em mim e já me confundo, porque não sei dizer se isso é o começo de algo lindo ou se é de algo ruim, finalmente, o fim. Ei-las, as duas possibilidades, as duas badaladas, as duas almas, o brilho inteiro de duas luas às duas da madrugada, as duas pupilas dilatadas às duas da madrugada, duas madrugadas dilatadas pelo tempo que corre lento, bem lento. Os sinos estão tocando em uníssono e agora eu acredito que você possa os escutar também. Sinto de perto o seu tímpano vibrando, anunciando que o ar ao redor não é mais o mesmo, é bem mais sereno, corrediço feito uma leve lufada de vento. Olha pra mim e me responde: os sinos estão tocando em você? Vamos fugir para onde? É o começo de algo lindo, é pulsão de vida vindo, anunciada por duas badaladas. Duas da madrugada e somos só nós dois que os ouvimos. Os sinos estão tocando.


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