Magrinho

Hoje é dia de gente nova chegando na Revista Kuruma’tá! Trazido até aqui pela mão da amiga e colaboradora Maria Cristina Martins, Cadu Marconi é historiador, palpiteiro e músico, não necessariamente nessa ordem. Mas o que ele é mesmo é um escritor de mão cheia, com uma prosa ágil e provocadora. Bom demais, gente! Seja bem-vindo à Kuruma’tá!

Texto de Cadu Marconi


Ilustração inventada por Toinho Castro com referências ranbdômicas

Só por achar um pedregulho daquele tamanho no meio da Presidente Vargas já merecia um prêmio. Tu mesmo, duvido achar!

Daí a tentar quebrar a propaganda da Reforma da Previdência embutida na placa do relógio de rua era consequência natural. O bleque-bloque bem que tentou. Era mirrado, mirradinho. Dizoituanos recém completados mas tentou.

Jogou a pedra uma, duas, três vezes e o vidro não arregou, se manteve lá! Mineral porreta o vidro, que atrás de si trazia o anúncio pregando as vantagens de se morrer antes da aposentadoria. Porque os homens velhos do governo são muito religiosos e nisso se encontram nas piores palavras bíblicas: morre, que depois a vida fica melhor.

Não demorou muito pra uma multidão se juntar ao redor: a fúria da horda pacifista se manifestou contra o magrinho. Surgiram primeiro com um cerco e gritos de guerra:

— Não me representa!! Não me representa!!

Em poucos segundos tomaram partido de forma mais clara, quando começaram a abertamente defender um lado (o do mineral):

— Olê, olê, olê, olêêê, vidroooo, vidrooooo!
— Ô blequebloquêêê, tomá no cuuuuu, eu defendo é o vidro do Itaúúúú!

Partiram pra cima do magrinho, mas ele como? Retrucando feroz. Peito estufado tipo pombo de calçada, gritou que foda-se a reforma, é que deu 40 graus no marcador, que isso ele não admitia.

Deu-se a confusão. Temperatura é coisa séria. Houve quem defendesse o verão, quem fosse contra, quem achasse que a boa era ocupar o termômetro, não permitindo seu pleno funcionamento.

O magrinho, salvo por sua particularíssima bomba de efeito moral e por outros e outras magrinhas, achou tempo e espaço pra sair dali. Fugiu enquanto se dissipava a fumaça.

Hoje, quinta-feira, há notícias de que a horda pacifista ainda está por ali, próxima ao relógio de rua na altura do número 700. Já chegaram em um consenso sobre a temperatura mas discutem furiosamente sobre o horário.

— 19h30? Claro que não. Acho que já é mais tarde!


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