Da música e da poesia de Joana Hime: Entreventos

Texto de Toinho Castro


A cerca branca das acácias lá de casa… Esse verso que escuto na canção entreventos, de Joana Hime, já me comove. Na minha rua de infância, em que vivi uma vida, havia acácias, que vi ser plantada, que vi cresce, que vi florir. Ariano Suassuna tem os versos de um poema em que fala das acácias do Recife, onde cresci:

Ela era leve, e tinha os olhos garços
como o paudarco-âmbar da “Acauhan”,
e os ouros das acácias do Recife
nos cabelos de sol pela manhã…

Então por conta de um verso, escuto de novo e de novo Entreventos, poema/canção que inaugura o projeto de mesmo nome, de Joana Hime. Porque minha conexão com músicas é feita de afetos e Entreventos é cheia de gatilhos afetivos. Começando pela sua raiz poética, que já me chama a atenção, pois que o projeto é de um livro de poesias, a ser lançado, e que terá 10 dos seus poemas transformados em canções, ao sabor dos meses.

Entreventos é a primeira dessa série, uma composição da Joana em parceria com seu pai, Francis. E aí vem outro afeto, o piano de Francis Hime , esse piano que escuto há tantos anos. Lembro nitidamente do seu disco Passaredo, de 1978… eu tinha 12 anos e lá estava Francis Hime entre nós. E escutá-lo aqui, nessa conversa musical com a filha, é de arrepiar, né?! Some-se a isso o violoncelo de Jaques Morelembaum, que me causou a primeira e indelével impressão em 1998, com a trilha de Central do Brasil,de Walter Salles. Veja só a sensibilidade e senso de cultura de Joana Hime ao cruzar no seu trabalho tantos caminhos brasileiros. Somos o que trazemos coma gente. Somos o algo mais que fazemos desses caminhos.

Inspirada na obra do poeta português José Luis Peixoto, Entreventos é ainda uma ponte com Portugal; esse Portugal que nos é querido e familiar, esse encanto de nos entendermos, de olharmo-nos através do Atlântico com carinho. “Fiquei muito impactada com o livro ‘Morreste-me’, este título ecoou em mim. Quase sempre minhas ideias nascem de outro algo que li, ou que vi ou que ouvi. Escrevi esse poema pensando no meu pai, acho que como uma forma de já ir elaborando sua ausência no futuro. O João da canção sou eu, sempre gostei de escrever sendo outra pessoa” — diz Joana. E mal começa a música e ouvimos a voz de José Luiz Peixoto recitando os versos que, a seguir, serão reelaborados como canção pela voz de Joana, em diálogo com outra participação portuguesa especialíssima, a poeta e atriz Carolina Floare, que é outro afeto.

Meu vínculo com Portugal
é profundo, desde a poesia
até a melancolia suave.

— Joana Hime

Joana diz que não se vê como cantora, mas no canto se encontra confortavelmente e nos encanta e transporta com ela para esse território tão caro À nossa cultura que é o encontro da música brasileira com a poesia, essas duas que estão sempre a se buscar e se encontrar em pontos luminosos, como esse que Joana Hime nos oferta em Entreventos. E para o bem de todos, vem mais por aí… a próxima se chama Casa, e também é parceria com Francis Hime.

O single Entreventos foi gravado no estúdio da Biscoito Fino e já está disponível na plataformas digitais!


POESIA DE DENTRO Pilulas sessão da tarde — Vídeo-poema que é parceira de Joana e Francis Hime. O poema constará do livro a ser lançado e terá também lançamento, em breve, em forma de canção.


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