Texto de Eduardo Frota
Lembro quando a vida tinha trilha sonora – ele pensou, o trompetista do circo, querendo esquecer o que tocava, o que dizia. Cada nota, cada sopro, tudo em seu devido lugar. O som, o seu som. Todos os sons que cabiam no mundo. Até o som que o sol fazia quando batia no seu rosto e que me deixava mudo.
Lembro quando para cada dia havia uma sinfonia – você lembra também, bailarina? Para cada sonho, um solfejo. Barulhentos eram os pesadelos quando a música ficava longe, guardada como lembrança debaixo do travesseiro.
Lembro quando as colcheias e as palavras começaram a parecer fora de compasso – quem nunca… Nem poesia, nem afago, nem abraço. Nenhuma letra, nenhuma rima, nada dando conta de explicar ou abarcar o espetáculo da trilha da vida.
Eu tocaria só pra ver você dançar uma marchinha.
Esquece.
Onde está minha surdina?