Cinco poemas antigos e inéditos, de Toinho Castro Revista Kuruma'tá, 16 de outubro de 202116 de outubro de 2021 Os velhos versos, às vezes, é melhor deixá-los quietos. Às vezes não. Às vezes é preciso mexer neles. Não tirar a poeira, que a poeira neles, não sai. São já a própria poeira que os cobre. Os revisitamos pra reencontrar o que não mais existe, e acabamos por encontrar algo novo. Porque tudo se transforma. Quem, enfim, os escreveu, esses poemas? Eu? Um outro Eu? Há um outro que seja eu? Leio cada um deles não como quem os escreveu, e sim como quem os descobriu. Mas no final do dia, sou o responsável por eles. — Toinho Castro Agosto nos prometeu setembroe sorrimos cheios de esperança.Agosto que era feito de ventoe folhas ao vento. Agosto nos deixou abraçados.Agosto levou embora o mare disse que setembro o traria de volta. Agosto agiu como se não soubesse de nada,como se tivesse esquecidoos nossos nomes. E quando setembro chegasseagosto não mais estaria aqui.Agosto prometeu setembropara o dia seguinte,e foi embora enquanto dormíamos. Agosto nos derrotou. Não perturbem a tranquilidade alcançada com tanta dor,não inventem coisas para nos machucar.Não vai adiantar. Temos a floresta a nos escondere a nossa fuga interior,temos um ao outro e podemosescrever nossos nomes na areiada praia. Não tentem nos enganar,que sobrevivemos. A amargura está guardadaatrás de uma porta apenasencostada,e não olhamos para ela. Minha cidade coberta de nuvem,de dentro da minha lagoa. Separo as grandes ondas dasondas pequenas,recolho os peixes antes que anoiteçae durmo entre eles calmamente. Deixo-me ficar triste comouma velha árvore, acolhido assim e agasalhadoentre os entes mais amados,e guardando no fundo do coraçãoa espera, a carta escritae o caminho entre as águas. A chuva não me deixa sozinho,nem a montanha iluminadapara onde sigo.E estou feliz com o frio do mar. para roberval Éramos parte das águas geladasque agora, só agora, reconhecemosao invadi-las com esse barco.Éramos como inseparáveis irmãos,insuperáveis no amor um pelo outroe de olhos esquecidos para o céu. Que força enorme nos ergueue nos sonhou, entre tantas coisassonhadas,que ondas tão altas a nos arremessarpara lá e para cá enquanto sorríamos. Sorríamos porque havia vida em tudo,e éramos parte das águas desse mar gelado, que justo agoracruzamos com nosso barco. Sorríamos por aceitar o vento,por percorrer o mundo,e por sentir que lembraríamos de tudo. Eu inventava árvorese alimentava estrelasporque sabia que virias. Eu preparava os campos,semeava portas e janelase sentava no terraço à tua espera. E já era agosto, quase setembro,quando a conta dos diasse perdeu. A AfetoLeituraMemóriaPoesia
Demorei a ler estes poemas O fiz agora, depois de um café talvez porque soubesse que o tempero das lágrimas não combina com a tal bebida… Lindos! Parabéns, meu caro amigo! Responder