Poema de Toinho Castro —
Com discos de Lou Reed
nas mãos,
sentamos junto ao cinema
O incrível feito
de ter comprado dois grandes
discos no mesmo dia
dois discos sobre
a perda e a morte
e nós ali
tão cheios de vida
sorrindo
com a maresia da brisa
de boa viagem
no nossos rostos
quem éramos nós ali?
não éramos o futuro
ou o passado
éramos dois mas aqueles discos
faziam de nós uma única pessoa
apaixonados que éramos
por Lou Reed
Lou Reed que nem sabia de nós
em seu apartamento
em Nova York
mas isso não era culpa de Lou Reed
as pessoas nascem
em cidades diferentes
distantes umas das outras
idiomas diferentes
uns gravando discos
e outros comprando
não lembro se fomos
pra minha casa ouvir os discos
ou se nos despedimos ali mesmo
ao lado do cinema
onde certa vez vimos juntos
cinema paradiso e choramos
como crianças
com os beijos perdidos
de celuloide
já em outra cidade
mais de 30 anos depois
escuto aqueles discos de Lou Reed
e lembro de você
você em Nova York, a mesma de Lou
mas outra
já depois de Lou
que morreu sem saber
o quanto o amávamos
e eu e você
das nossas distâncias
ainda trocamos esse amor
ainda colocamos esses discos
pra tocar
ainda nos emocionamos e lembramos
de certa tarde, jovens ainda
felizes como nunca
com discos de Lou Reed nas mãos
e amor um pelo
outro
Para Vânia