A poesia de Bianca Rufino Revista Kuruma'tá, 16 de dezembro de 202216 de dezembro de 2022 Bianca Rufino, ou Bianca Sabiá, nasceu libriana, na Serra da Borborema, num 7 de outubro, como este humilde editor que vos escreve, só que anos depois! Só isso já abre uma simpatia enorme em mim. E a leitura de sua poesia só reforça isso que já é admiração. Que mais poetas como a Bia cheguem céleres na Kuruma’tá, casa de poesia, casa de poetas e sensibilidades. Bia, seja bem-vinda! Nossas estão portas sempre abertas!Bora ler essa artista?! correnteza era elamas por trás tinha outraselasa avóa mãedelapor cima da marcaA matriarcaelaera a reticênciada existênciadaquelaEraelaque iapassar a chamapra próximavela. aprendendo do zero oamor me ensinatodo diaa ser miúdacomo a formigae a ser gigantecomo o horizonte oamor me aprendea escovar os dentesdas cáriesa chorar no peitovulnerável oamor me libertatodo diaumanova cara se mostra oamornão é à prova de balasoamoré o desarmamento. Zíngara você olha e me vêna largura do rio [me derraamaanndoo…quando voltar…volte pelo outro lado]estarei circulandoentre arbustosentre âmbaresentre escamasnada me decretanão me contrabandonão pertenço: deito sobre o universoa palavra não vai me engolirresisto!lutarei com meus dentes de cãomastigarei linhas e vomitarei o sumo e o bag(aço)aviso: não me tire por essas letras que me vestiramsou transeuntetrabalho em t r â n s i to. receita quando o canto do pássaro te atravessarse faça de madeira (oca)deixe ele maturarno seu íntimo barrilcomo cachaça.canto bomé canto curtido. sobre ter muito bicho por dentro eu gostodo modoexagerado e desajeitadode seu vôominha vistase confunde na perfeiçãoe se magnifica na falhaé o excesso de bicho que tenho em mim. não sou dessa laia! as coisas desta sociedade banaleu não entendome chamem burrajumentaantasó não me identifiquem como dos seus,é ofensa!não quero pactos com essa tralha acinzentadaessa fumaça não é incenso e não limpa: entopesou feita de grãos de terraadubos e galhosessas coisas que ladramse exibeme se contentam com concretosnão criam asas,criam objetos à sua semelhançanão quero laçoscom essa civil ordemque despreza espíritonão demarca terras indígenasmas cria sua marcanão engole criançamas come seus sonhos para tornar a ser gentenão me chamem dos seus!não sou dessa laia!a coisa da poesia as palavras são soprosde oraçõessão mantras disfarçadoseu não uso qualquer palavra por aí tenho minha irresponsabilidade sobre elasfalar pra uma planta o nome científico delaé como te chamar de homosapienchamar a parede de paredetira a graça dela de poder ser um varal de sonhos a riqueza da poeta é o silêncionele,tudo acontece:o som vai engolindo o traçoo traço vai virando letraa letra virando barro de moldar e por aí se cria depois do silêncio dessa ruminaçãovem o estalo:a letra te foge à menteagora ela é livrecomo o rugido de um leão eis a coisa da poesia:palavra tem que sair de dentro como rugido de leão. Bianca Rufino ou Sabiá, nasceu em 7 de outubro de 1992, sua semente brotou na serra da Borborema, em Campina Grande, mas sua muda foi cuidada em João Pessoa, Parahyba. Poeta, escritora, compositora, cantora, performista, andarilha, cartomante e brincante: transita entre linguagens da arte, com essência na palavra. É autora do livro de poesia Zíngara (2021) pela Editora Triluna, De quando o rio lavou as histórias (2021) livro de contos que foi vencedor do Prêmio Políbio Alves, criou 18 fanzines e trabalhos nas artes visuais. Desenvolve vídeo-poemas e performances, três delas selecionadas por editais do país: ‘Cotidiano In.verso’, ‘Gurugi’ e ‘O dia em que tirei minha alma pra dançar’. Realiza itinerâncias poéticas e produz um projeto de circulação chamado ‘De carona na poesia’, passando por cidades diversas com apresentações, rádio difusora e oficinas de escrita. Tem o espetáculo ‘Voltando para casa’ com repertório autoral de música e poesia. A Campina GrandeLeituraParaíbaPoesia