Texto inédito de Helena Lima para a Kuruma’tá

Texto de Helena Lima


Tem uns anjos soprando textos para a Kuruma’tá… Eu tô lá na internet e de repente, num zap, no messenger, alguém aparece com uma preciosidade, uma dica. Tínhamos acabado de publicar o texto sobre o livro O cajueiro nordestino, de Mauro Mota, publicado em 1955, quando essa voz, via messenger, me trouxe para o presente mais presente. É de Andréa Drummond a dica desse texto inédito e potente de Helena Lima, que está lançando o livro Amores virados pra cá, juntamente com a escritora Isabelle Borges, pelo selo Lago Baikal, o selo de literatura pra gente grande da editora Lago de Histórias (confira os detalhes no final dessa publicação).

E agora, com o poder da palavra… Helena Lima!


25 de novembro é o Dia Internacional da eliminação da violência contra a mulher.

Século 21 
e ainda querem nos calar.
Nossa liberdade afronta.
Nosso desejo precisa ser contido.
Nossa voz, abafada.
Nossa arte, censurada.
Toda essa criatividade é prejudicial à saúde. (De quem?)
Ela tem ideia demais.
Não é normal.
Tem problemas psicológicos. Isso é certo.
Escrever um livro a cada movimento de expiração? 
Não, não pode. 
Muito perigoso.
Isso é excitação. Euforia…
Ela não quer mais casar?
Quer ir pra onde o desejo está?
Quer ser livre?
Feliz?
Romper com as estruturas?
Como assim?
Tá tudo posto.
Tá tudo certo.
Tá tudo de tão bom gosto…
Mas ela gosta de outras coisas.
E desestrutura.
Enfrenta.
Banca.
Fode com tudo.
Precisa ser silenciada.
Que história é essa de liberdade de expressão, de escolha, de caminho?
Prende esse desejo.
Prende essa potência.
Prende esse surto de independência.
Que mulher perigosa…
Que ousadia…
Que putaria…
Ela fumou maconha? Maconheira.
Ela bebeu caipirinha? Cachaceira.
Ela quer outro homem? Piranha.
Ela chegou de madrugada? Irresponsável.
Péssima mãe.
Não foi esse o exemplo que lhe foi dado.
Era pra ser recatada.
Quieta.
Calada.
Obediente.
Casada.
Que absurdo…
Uma mulher empoderada.
Livre.
Solta.
Desamarrada.
Chama a ambulância.
Amarra ela na maca.
Prende ela na marra.
Tá possuída pelo demônio.
Ela sou eu.
Você.
Cada uma de nós.
Ela é o próprio demônio.
Possuída de si.
Ultrapassa as grades do manicômio.
Manda um beijo. Pisca o olho.

“Desculpa desapontar.
Pra me conter, vai ter que me matar”.


Lançamento do livro Amores virados pra cá

O lançamento do livro Amores virados pra cá, seu primeiro livro para o público adulto, em parceria com Isabelle Borges, será lançado na próxima sexta dia 29 de novembro, na super ultra querida Blooks Livraria, na Praia de Botafogo, 316. O horário é 19h!