Ano que vem será diferente

Texto de CARU


Datas obrigatórias. Falsa realização de descanso. Cheiro de dendê. Uma certa paz. Tenho fome de coisas gostosas. A Bahia me dá. Fora. Vento. Sol. Mar. Eu saio a pé pra ver o pôr do rei. Pessoas param para tirar foto da paisagem que vive no meu olhar. E mesmo que more, eu também tiro uma foto no celular. Compartilhamento de sensações. Um casal desce na areia da praia do Rio Vermelho, que é azul. Tocam seu violão em miniatura. Uma criança pula as ondas ao lado de sua mãe. Estavam a espera do alimento que vem do mar. Dezoito horas. A hora que – depois de singrar pela Baía – o peixe chega. Chega quando o sol se vai. Eu permaneço. O moço que passou da direita para esquerda – atrás de mim – passa agora da esquerda para a direita e tira a segunda foto. Outras cores. Outras sensações. Influenciada, eu também tiro outra. Vício do compartilhar mais uma vez. Eu quero e não quero voltar pra casa. Talvez eu deite aqui na balaustrada mesmo. Talvez eu entre pela porta da sala. Talvez eu entre com fones de ouvidos desligados. Mas isso só eu vou saber. Eu só queria silêncio. Comportamentos quase que obrigatórios. Não é de todo mal, não é mesmo. Mas só chegam mais. Mais. Mais e mais. E quanto mais chega, mais chegam, mais eu me escondo. Antes não era assim. Eu fingia. Deixava passar. Hoje sinto o muro ao meu redor. Eu mesma fui construindo minuciosamente. Sou boa com construções. Firmes. Porém, (ainda) dá pra ver por cima. Às vezes só não precisava ser obrigação. Só quando for pro meu santo. Defumador. Cheiro de água de flor de laranjeira e água marinha. Dendê no almoço e depois das festas. Oraieieo, eu peço calma e serenidade. Okê arô, fecho os olhos e saio arrumando tudo. Determinações de fim de ano. Odoyá. Jogando coisas fora. Organizando o caos visível. Coisas novas. Venham. Ano que vem será diferente.

Foto: CARU