Diário do Edu Maciel

Texto de Eduardo Maciel


Meus caríssimos kurumateiros! Nesta quinzena não vou dizer olá. Vou apenas deixar o convite para lerem a última página do meu diário:

Querido diário,

Sim, é época de pandemia. Pandemia causada por um vírus. Perigoso. Muito perigoso. E com a pandemia, a necessidade de isolamento social. Com o tempo, as pessoas começam a estranhar o confinamento, a desnudar e virar do avesso relacionamentos, se readaptar em rotinas e por vezes se desanimam.

Por que será que isso não acontece comigo? Sim, tomo TODAS as precauções possíveis para me proteger. Sim, estou em casa (com mais um adulto, duas crianças e quatro gatos). Sim, tenho amigos tocados pela Covid, e dentre eles uma que se recuperou, dois que sucumbiram e uma internada em estado grave. Não, não recebo informações sobre a evolução do quadro de saúde de minha amiga. E isso dói. Corrói. E é trágico. 

Rezo por ela (também) todas as noites, e sofro a perda dos que foram.

Mas, por outro lado…

Por outro lado, me sinto extremamente bem e seguro. Primeiro, porque exercitei na vida a maleabilidade da adaptação. E nesse processo, em meio ao não mais recente desemprego, já havia experimentado o isolamento e a opressão do desamparo. Além é óbvio de ter faxinado minhas gavetas de amigos, praticando o desapego pra valorizar mais o que ficou.

Depois, porque desmistifiquei os vírus, bactérias e afins, e faço exames semestrais para checar a saúde.

Fora o fato de que aprendi a projetizar tudo o que se passa comigo, e isso me assegura efetividade com relação a compromissos, sejam eles quais forem.

Todos os dias escolho olhar a vida com as melhores lentes, com otimismo e acreditando na lei de causa-e-efeito e na implacável lei do retorno. E isso me conforta.

E do conforto, vem a imaginação, a inspiração e a criatividade de que preciso para servir às artes, o que é a chama que me aquece a alma.

Acho que todas as pessoas, meu diário confidente, têm algo em si mesmas que as permitam ter suas almas aquecidas. Que usem então esse tempo de recolhimento para cavar em si mesmo até encontrar esse gatilho.

Porque, se a gente se mantiver produtivo todo o tempo, cada um produzindo o que deve e o que gosta, não haverá espaço para falsos atalhos ou tédio. Ou mesmo coisas piores.

Espero que todos possam renovar sua esperança a cada amanhecer, que possam usar com sabedoria esse período para crescimento pessoal. 

Que possam tirar lições disso tudo. E que fiquem em casa, mas não fiquem paradas.

Vou me despedindo por hoje, meu diário leal. E obrigado por me deixar desabafar um pouco aqui em suas páginas.

Ah, preciso assistir aos três últimos episódios da série, mas não estou conseguindo. E você sabe, estou tentando.

Até a próxima!

Será que fui íntimo demais hoje?