Eu só quero um horizonte

Texto de Dênis Rubra


O horizonte. Eis um direito fundamental. Acordar. Levantar. Olhar acima. Ver adiante. Um céu inteiro bem na sua frente.

Mas ver o amanhã é fácil. O difícil é enxergar um hoje. Ter o dom de sair da cama. Saber lidar com o que se apresenta à frente. Hoje. Na ausência da potência pra ser feliz. Quando o que resta é sonho. E no sonho o amanhã. E no amanhã o hoje. Ou, se não o hoje, algum jeito de chegar aonde quer que seja.

O leitor deve pensar: que isso? Eu explico.

Todo homem vive no hoje. E viver no hoje implica ter havido ontem. E já todo ontem implica um amanhã (mesmo que o amanhã seja agora). O que significa: vivemos uma eternidade imensa de instantes a espera do que há de ser.

Por isso o direito fundamental: esperar. Mas esperar com horizonte à frente. E por isso o horizonte. Esse fundamento do humano. Um querer estar lá estando aqui. Uma força de passo à frente. O horizonte: essa presença visível de coisas não acontecidas.

Como viver sem? Como acordar no escuro da esperança? Acordar e só. Levantar e só. Olhar a baixo e pensar: é isso?

Como não haver algum amanhã qualquer capaz de se fazer presente agora? Mesmo que distante. Algum futuro que acene. Aquele jeito do que vem vindo dizer já venho.Já vou. Mais um pouco e sou.
Ah, como te espero!

Ah, como te espero!
Veja bem: Eu não invoco o futuro!
Eu só quero um hoje! Só peço um hoje! Um hoje apenas!
Um hoje com algum horizonte que acene!
Que me diga: Como vamos?
E se eu disser: Mal.
Responderá: Iremos juntos até estarmos bem.
Está me vendo? Eu direi: Sim.
E ouvirei de sua cor tão de horizonte… Me ver sempre será o suficiente.