— O que será de nós? O que será?

Concedo hoje a liberdade de publicar na Kuruma’tá uma pequena seleção de poemas escritos pela minha mãe, Lenira Castro. Não por nada… é que ontem ela me perguntou o que era preciso fazer para publicar uns poema na revista. Que singeleza de pergunta! Tenho aqui comigo os poemas, nos cadernos em que ela os escreveu. Fico feliz em publicá-los, pensando na riqueza enorme e anônima da poesia do Nordeste, em que cada família tem pelo menos um poeta.

Os poemas aqui reunidos foram publicados em 1996, no livro Folhas esparsas, do poeta potiguar Wellington de Campos Leiros, meu tio, casado com a irmão da minha mãe, minha tia Bita. Porque poesia é coisa de família, geração após geração. Ao publicar seus próprios poemas, Wellington, generosamente abriu espaço nas suas folhas esparsas para a produção de poetas amigos, incluindo aí os versos de dona Lenira!

Toinho Castro, editor da Kuruma’tá!

Poemas de Lenira Castro


O que foi feito?

O que foi feito amor, do nosso amor?
Do teu olhar no meu a perguntar:
— O que será de nós? O que será?

O que foi feito amor, das nossas mãos,
que se apertavam, como se estivessem
na hora triste de uma despedida?

O que foi feito , amor, de tanto amor,
que arrebentou me ser, me esmagou…
e que morreu, levando minha vida?

Desencontro

Pela estrada da vida
fui um dia
Em busca da ilusão
de um amor
Braços abertos
risos de alegria
no coração
ternura, fé, calor

…e te encontrei
sozinho caminhavas
como ma folha
de outono
Solta ao vento
Só o desejo de amar
alimentavas

Me encontraste
Nos encontramos
Nossos sonhos
unimos num abraço
Nossas vidas
se confundem
nos amamos

Mas pela longa estrada
nos perdemos
Algo cruel partiu nossos abraços
e o nosso amor caiu
como uma chuva
e aos nossos pés morreu
feito em pedaços

Mágoa

Eu fiquei só,
cercada de saudade…
Sem ti a vida
terminou p’ra mim.
Parti pra longe,
pra outra cidade,
por uma estrada
que não vejo o fim.
Se tu soubesses
como sofri tanto…
A tua ausência
me desesperou.
Diante de um
abismo me encontro
sozinha,
com a lembrança
que ficou.
Do teu sorriso
que me encantava;
do teu olhar moreno,
tão tristonho;
do sonho louco
que por ti sonhei,
tudo passou.
Se foi tal qual
o vento.
Só ficou em minh’alma
esta saudade,
esta dor, esta mágoa,
este tormento.


Esses meus versos…

Esses versos que faço
sem saber,
sem querer…
Por que?

Não sei dizer.
Sei que os faço…
e que, hoje, são meus…
só meus.

Se, mais tarde forem lidos, recitados,
ou em páginas de livros, editados,
quero que saibas que já foram teus.