Com atraso e com carinho | Órbita, de Mariana Volker

Texto de Toinho Castro


É muito livro, muito disco, muito filme, muita gente, muita arte, muita cultura! Ainda bem, né?! Mas fica difícil dar conta de tudo. Tanta coisa que a gente acessa, aprecia, se espanta e quer comentar, espalhar pros quatro cantos, nos quatro ventos… mas nem sempre a gente consegue. Então alinho aqui uns comentários sobre um trabalho lindo, que me pegou pela alma.

Sim, já deveria ter escrito algo há muito tempo, mas eis-me aqui, agora, a me redimir. Com atraso e com carinho.


ÓRBITA, de Mariana Volker

Querida Mariana.

Eu já te acompanhava e ao teu talento. Por isso, Órbita, seu disco, não deveria ter me surpreendido. Mas que bom que me surpreendeu, que alegria. Isso demonstra o quanto você é capaz de transcender e crescer cada vez mais a cada nova proposição. Isso é lindo. órbita, é lindo. Precisava escrever isso há tempos, mas foi ficando pra depois e depois e demorou. E dois anos se passaram… Que loucura! Mas ao longo dessa demora, posso dizer que muito me demorei nas audições que fiz do seu disco. Muitas. Foi um disco que não saiu da vitrola… algumas canções em especial, mas não era raro deixá-lo acontecer do início ao fim. Uma das trilhas que me levitaram nessa pandemia sem fim (que há de logo acabar!).

Eu sou daqueles que gosta de ouvir uma música de novo e de novo. Adoro looping musicais. E algumas de suas canções me pegou pra valer. Não tiver puder em escutar + Amor, Cheia de curvas ou a própria Óbrita, repetidamente, feito criança que busca aprender algo. Me divirto com sua leveza, me empolgo com o sotaque tão pop e tão bom, e uma delicadeza pra falar de amor, pra falar de si com amor, pra falar comigo, com a gente, com essa clareza. Porque chegou a hora de falar.

Naquele filme A lula e a baleia, sobre o impacto da separação de um casal sobre os filhos, tem a história do filho mais velho, que vai participar de um festival no colégio, e a gente, ao longo do filme, vê ele ensaiando Hey you!, do Pink Floyd… e no dia da apresentação ele anuncia: vou cantar agora uma música que eu fiz. E se põe a tocar Hey you!. Quando, por fim, confrontado com o fato de que não tinha escrito aquela música, que era de uma banda famosa, ele retruca: mas eu poderia ter feito!

Toda essa historinha pra dizer que Órbita, a música, eu poderia ter feito, tal o nível de identificação! Quando escuto, sempre, fico comovido, com seu canto, sua voz linda, o arranjo. Aqueles versos tão bem alinhados e certeiros. Com a natureza óbvia de que essa música fala do que eu sinto, do que eu vivo: Você que acredita no amor / Você que acredita em disco voador… E Cheia de dobras! O que é essa música?! Amo como o piano está em toda parte, porque é seu instrumento, e ele vai se espalhando nas músicas como água, como água do mar, no seu fluxo e refluxo. No seu disco há gravidade, essa força que a gente não vê, e que está em tudo. O piano denuncia essa gravidade poderosa.

É um maravilhoso disco de amor, disco de vida, que escutei demais ao longo dessa pandemiaUma música atrás da outra com você afirmando e reafirmando a necessidade do amor, da diversidade, da alegria, da verdade e do enfrentamento interior. Que coisa linda. Um disco que dá vontade de conversar, de dançar, de ligar pra uma velha amizade e dizer: Preste atenção, meu bem… Agora mesmo tô aqui na noite de Vila Isabel, com seu disco lindo na vitrola, a vitrola virtual do streaming, sentindo essa intensidade de resposta ao tempo, ao seu tempo. Escuto e fico feliz. Pelo que nele há de simples, de denso e de difícil e desafiador. Vixe, que eu queria ele em vinil!

Essa cartinha, Mariana, é somente pra isso. Pra dizer que adoro Órbita, que tenho um grande respeito pelo seu trabalho e que acompanho, com meu telescópio, essa sua trajetória orbital, de perto. Nesse céu noturno e constelar em que sua música se move. E desde de Órbita você tem inventado, criado, construído parcerias, em meio a uma pandemia, e isso é incrível! Bom demais, Mariana!

Com atraso e com carinho
Toinho

PS. E que voz linda é essa, gente?!


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