Sobre o livro Não queria bonecas Gostava de flores, de Tays Melo

Texto de Toinho Castro

Que prosa boa a de Tays Melo, que prosa forte. Esse texto pequeno é pra dizer do seu livro, Não queria bonecas, gostava de flores, trabalho selecionado no Prêmio Literário Lúcia Giovana, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Areia, na Paraíba, via Lei Aldir Blanc. E viva a Lei Aldir Blanc.

Lida a seleção de crônicas que costuram o livro, a vontade que dá é de sentar numa esquina de Areia, numa noite neblinosa e possivelmente assombrada, pra beber uma cerveja e observar Areia passar e transmutar nessa substância mágica que percorrer a escrita de Tays. Escrita de mulher que transcreve a cidade , e que pela cidade é transcrita. Escrita de mulher que cresce nesse mundo de homens no comando. Escrita rebelde e indomada, escrita de Basta e Chega. Também escrita de Repara só! Nas coisas, nas ruas, nas pessoas. Também nos jeitos, nos preconceitos, nas negações e portas que se fecham se você é mulher, se você é menina. Escrita de coragem. A escrita é a arma de Tays, e também bandeira e alento.

Eu poderia ter cresci assim, uma delicada mocinha entendida e submissa apenas ao que cabia ao meu gênero. No entanto, mais do que “coisas de menina fêmea”, aprendi com meus pais, com a escola e a sociedade que ser menina era um grande tédio. Ensinaram-me claramente que eram as coisas mais divertidas feitas apenas para os meninos e, ainda que não fossem produtivas como os adultos gostariam, aos meninos eram permitidas.

Em Não queria bonecas, gostava de flores, Tays vive a cidade, vive Areia. E o que lemos é esse enredado de gente e ruas, e os modos e maneiras em que Tays, narradora, personagem, misturada e separada, transita nesse espaço. E de como ela extrapola, maior que singela malhar urbana e social, cultural. De como ela se amplia a cada passo rumo a suas histórias.

Que livro bom de ler, feito de luta e também de leveza. Como se Tays me pegasse pela mão e me levasse pra conhecer esse universo modular de cidade e mulher, e como uma se insinua na outra, como uma impacta a outra. E disso nasce essa literatura, que em mim vira leitura e uma vivência compartilhada, que me faz saber de Tays, de Areia e da neblina que cedo ou tarde, a tudo cobre.

Eita, prosa boa.


Mais Tays Melo na Kuruma’tá!