Independência Poética: Thiago Vieira

Independência Poética é uma série de entrevistas realizadas por LORENA LACERDA

Poeta de hoje: Thiago Vieira

Thiago Vieira é poeta, professor de inglês e português. Reside em Leopoldo de Bulhões-GO, sua cidade natal. Em 2016, lançou “Poética das Águas”, primeiro livro de poemas. É membro da Academia de Letras e Artes de Silvânia (ALAHS). Em 2020, fundou o Coletivo NuaPalavra, um grupo virtual de escritores de todo o país. Sua última publicicação foi o livro “Entre Nuvens e Voos” (poesia) em 2021. No Instagram, Thiago realiza entrevistas, saraus e concursos de poesia divulgando poetas e suas obras.

O que te inspirou a começar a escrever?

A minha escrita nasceu a partir de duas circunstâncias. A primeira foi o resultado do início de um processo terapêutico em 2015. Minha terapeuta da época, também poeta, usava a escrita como ferramenta para lidar com suas questões. A segunda foi a influência de duas professores minhas do curso de graduação em Letras da PUC-GO, Rita de Cássia e Divina Paiva, ambas poetas. Enquanto eu sofria com o fato de mexer em traumas e feridas emocionais, eu li os poemas destas poetas-professoras e me inspirava neles para escrever meus próprios versos. Eu achava incrível que através da linguagem poética era possível dar explicar sentimentos e vivências tão íntimas de uma maneira tão bonita e singular.

O que você faz quando percebe que está com bloqueio para novas poesias?

Olha! Antes eu sofria com isso. Hoje, eu não sofro mais. Mentira. Sofro sim. Risadas. Porém, eu deixei de me importar tanto com o bloqueio pois sei que na hora certa o poema nascerá. Geralmente, o poema vem quando tenho uma necessidade imensa de dizer algo de modo mais elaborado e catártico. E assim meu poema vem como uma flecha do meu interior que vem depressa para acertar o alvo, o caderno (neste caso).

Seu maior sonho como escritor(a)?

Meu maior sonho era ser reconhecido pela poesia e poder sobreviver dele. No entanto, preciso confessar que existem muitos poetas bons que escrevem mil vezes melhor do que eu. Penso que primeiro preciso investir mais em cursos de escrita poética, ter o acompanhamento de poetas de longa estrada e amadurecer minha escrita. Felizmente, acho que tocar meus alunos e poder influenciá-los a escrever é mais realista do que ganhar um grande prêmio. Incentivando-os a ler (o que é uma grande tarefa) já me deixa mais realizado.

Assunto preferido de escrever?

Acho difícil demais lidar com as frustações da existência humana. Vivemos numa época marcada por tanta ostentação, reforçamento de um padrão de beleza e importância de status, dinheiro poder. Mas fala-se pouco sobre como é complicada existir e como pode ser doloroso respirar e morar neste mundo. Pra mim, falar de momentos desesperançosos (e também esperançosos porque preciso também da esperança) faz mais sentido.

Um elogio para sua própria escrita?

Ás vezes, nascem de mim algumas poemas tão originais que me assusto. São raros mas eles veem. Risadas.

Já publicou algum livro? Quais? Caso não, tem planos?

Já. Publiquei Poética das Águas em 2016 e Entre Nuvens em Voos em 2021. O primeiro não está disponível mais para vendas. E o segundo pode ser encontrado no site da Amazon tanto na versão física quanto online. Neste ano, quero lançar outro. Tenho trabalhado nele mas preciso me organizar mais para certeza de que quero lançá-lo mesmo.

Quais inspirações do cotidiano despertam sua escrita?

Terapia, terapia e terapia. Hahaha. Eu já disse terapia, né? A terapia me provoca mexe comigo e partir daquele contexto escrevo alguns poemas bem interessantes. Não só a terapia me influencia, mas também a contemplação da natureza, a leitura de poesia de outros autores, algum acontecimento marcante, dentre outros.

Qual dos seus poemas mais te define?

Pergunta difícil. Acho que não existe um que define pois cada época pareço escrever de um modo que explica aquela época, entende? Mas acho que um dos primeiros poemas que fiz me explica melhor: “Um pássaro na gaiola/sempre espera a hora/ de ir embora”. Sou este pássaro que quer ir embora. O céu é meu lugar.

Qual a parte mais fácil e mais difícil da escrita para você?

Mais fácil é simplesmente escrever. Mais difícil é reescrever, julgar sua escrita, buscar cursos de aperfeiçoamento e não amar tanto o se escreve. Acredito que o poema precisa tocar as pessoas. É bom escrever para mim porém quero quer lido e quero que as pessoas se identifique com que eu escrevo. No processo de escrita, nem sempre é possível ser tão claro ou poético quanto ao que se quer dizer. Noto isso bastante em mim. Muitas vezes não consigo expressar o quer quero dizer e parece que o desfecho do poema não apresenta muita coerência e coesão.

Qual sua obra favorita de outro autor(a)?

Gosto muito da poesia de Orides Fontela. Ela é concisa e objetiva, mas marca profundamente. Acho que a escrita da poesia precisa ser assim.

 


Um livro de Thiago Vieira

Nome da obra?

Entre Nuvens e Voos.

Quando e em qual editora foi publicada?

Foi publicada em 2021.

Existe um tema central nos seus poemas/poesias? Qual?

A busca por liberdade, a força do sonho, o encontro da imaginação e a beleza da fantasia. O livro também mostra um pouco da inocência infantil e tem temas existenciais e reflexivos.

As poesias são divididas em fases nessa obra? Se sim, o que te motivou a fazer isso?

Não. Tenho dificuldade em dividir poemas e a fazer uma leitura mais global dos temas gerais das minhas obras.

O que te incentivou a escrever esse livro?

Este livro nasceu primeiro com um poema. Depois, com outro. Outro poema. E outro poema. E assim foi. Percebi que eles se relacionam com palavras como “nuvem, voo, ave” e assim entendi que havia uma unidade de sentido entre boa parte dos poemas.

É possível destacar uma poesia que mais se assemelha a seu cotidiano?

COMO COMPORTAR O COMPORTAMENTO
Thiago Vieira

Incomodam-se com meu jeito.
Pediram-me para eu mudar.

E eu? Será que mudo?
Mudo. Ficarei mudo.

Ouvirei a voz do meu silêncio,
ensinando-me a me amar.

Sentirei as mãos do vento,
levando meus pés no ar.

Existe algum posicionamento político ou cultural na obra?

Político, raramente. Me interessam mais os temas ligados a existência do sujeito e conflito de existir e lidar consigo mesmo e com as demandas ao outro. Também me interessam a contemplação das belezas criadas por Deus. Um assunto que gosto de escrever é sobre a educação, alunos, professores pelo fato de eu ser professor e entender a problemática da escola pública atual.

Qual a poesia mais marcante desse livro?

Há um poema que é bem divertido. Gostaria de compartilhá-lo:

REFLEXÕES DE UMA MULA SEM CABEÇA
Thiago Vieira

A mula sem cabeça anda pensando:
“Como seria minha vida com uma cabeça:”?
Então, bem alto, a mula grita:
“Cadê a minha a boca?”