Poemas de Rafaela Valverde

Hoje na Kuruma’tá mais poesia que chegou no nosso inbox mágico! Dessa vez da soteropolitana Rafaela Valverde. Seja bem-vinda, Rafaela, ao mundo Kuruma’tá… falando para o mundo!!


Rafaela Valverde é escritora e poeta, sou nascida e criada em Salvador-Bahia, onde sempre morei, estudo Letras na Universidade Federal da Bahia, tem um blog e um livro publicado, ambos chamados Coisas e Casos Feitos e Fatos.


Trabalhadorescos

Pessoas andam rápido
Saem do sufoco e vão para o que acham plácido
Mergulham na teia dos seus inúteis afazeres
De manhã, mingau de aveia
A fim de sustentar pseudoprazeres
De quem acha que trabalha pra lucrar
Mas o contrário acontece
Trabalham para cansar
Suor na testa
E encarece
Todo ano, o que tiver de comprar
Mas, não lembram que debaixo do sol e do céu tudo é desimportante
Não há pressa que adiante
Sempre haverá o que nos adoeça
Com a desculpa de ganhar
Uma nesga de futuro brilhante…

 


Sentires aguerridos

Sinto tanto
Tanto que um tanto não basta
Sinto que é uma hora nefasta
Pra se desabar de paixão
E a solidão não deixa barato
Arsenal de carência e muitos artefatos
Para bancar a que nada sente, mas ainda assim sabe que sente

Sinto tanto
Que um dia não é suficiente
Necessária uma imensidão
Para dar conta de todo meu sentir
Tento reagir
Mas saio do meu corpo e fico olhando pra mim
Olhando de fora sei que não é o fim
Ora, nada mais acaba até que a paixão se esgote
Até que o sentir se esvaia
Até que nada mais importe
.
Sinto tanto
E ainda assim preciso que saia
De mim todos esses sentires
Que até hoje se enraízam em meu corpo
Tomam conta de mim
Tanto que um instante não basta

Sinto tanto
Que transborda em mim como um poço
De miraculosos horrores
Causados por apaixonamentos infantis
Sim, daqueles que surgem e nunca mais se vão
Fincados estão, daqui não saem mais

Sinto tanto
Que nem sinto mais necessidade de fazer rimas
Ora, o poema que seja livre
Com seus versos e encantamentos
Ao contrário de mim
Que presa estou em tudo o que sinto.

 


Seu jardim

Me jogo em seu cabelo, ensimesmada
Entranhada em você, saio de mim
Vácuos me arrancam da jogada
E me tiram desse jardim

Que é olhar pra você
E sentir a dura delicadeza da sua pele
Tento não dizer
Peço em silêncio que meu peito não congele

E sim aqueça
E de amor não pereça
Não quero falar
Mas quase escapa da minha garganta

Que quero me entranhar
Não mais em mim
Em você,
Cabelo e pele

Mas guardo pra mim
Imploro que meus olhos não revelem
Que quero estar entre as suas flores
Não mais correr do jardim

Jogo-me em você, desesperada
Porque o medo me impede
De sair de mim e mergulhar em você.

 


Vidanosa

O que há de vir
É o que todos pensam que é bom
Nem sempre vai fluir
E nem vai melhorar o tom
Da vida que a gente leva
Que é pesada
E se entreva
Oh, vida fracassada!
Oh, tempos sombrios!
Que a gente espera que um dia sejam macios
Para não dar em nossa cara com tanta força
Oh, lamento insano
Que não leva a nada!
E ainda querem que a gente torça
Mas é apenas um engano
Uma vida estagnada
Que pensa que é alguma coisa
Diante daquilo que sabemos que não é
O que há de vir é incerto
E segura meu pé
Lança-me a uma suja pia de louça
E a um poço aberto

E lá me jogo pra nunca mais sair!

 


Quase todos os dias

Quase todos os dias recebo notícias ruins
Minha casa já é quase uma caixa de fossa
Daquelas que quando abre cheira mal
Notícias malcheirosasduramentedecepcionantes
Que vêm dia após dia
Semana após semana
Com más novas fedidas e afins
A fim de me fazer balançar e me destituir de sonhar
Aí eu penso deve ser normal
Todo mundo vive assim
“Minha nossa!”
Não é que ainda me surpreendo com mais uma
Uma news que chegou aqui
E não é fake
Deixo isso para as ciências políticas imorais
Quase todos os dias acho que pode ser diferente
Novas circunstâncias virão
Penso inutilmente
Não dá mais para sair dessa caixa escura e fedorenta que virou minha casa
Minha mente
E minha vida.
Quase todos os dias finjo que tenho outra vida
Mais serena
Menos cansada
Fazendo cena
Como aquelas de atrizes globais talentosas que fingem que a vida é um poço de águas tranquilas
Quase todos os dias eu me iludo
Quase todos os dias recebo notícias ruins
E fico pensando quando isso vai mudar

 


Di-versos

Di-verso
Em verso
O inverso dos ponteiros só mostra
Que o tempo não vai esperar você.
Decida,
E incida
Em minha alma que te quer
Dia e noite.
Cônscia de sua grandeza
Mas, ainda assim
Lotada de amor
Di-versos
De bem querer
E universos de você.


Canais de Rafaela Valverde na web:
Podcast: podRafa
Intagram: @rainhavalverde
Blog: rainhavalverdeblog