Um grito em cada poema | Girvany de Morais

Nasci no dia 27 de março de 1965, num lugarejo chamado Vaqueta, no município de Açucena, às margens do Rio Santo Antônio, sendo meus pais Maria Dias Martins e Juventino Martins de Morais, portanto há 51 anos estou pelejando nesse mundo remando minha canoa, como fazia nos velhos tempos, no Rio Santo Antônio, rio que navega de forma indelével na minha vida.

Sempre gostei de ler, eo meu primeiro livro, ganhei do meu irmão mais velho, livro pedido pela escola, que se chamava “As mais belas estórias”, não me lembro do autor que fez a compilação das estórias.

Desde a tenra idade, toda manifestação artística me encantava, em especial a Literatura. Gosto de Drummond, Pablo Neruda, Mário Quintana e Bertold Brecht, não querendo ser pretensioso, confesso que fui influenciado por ele; gosto também de Charles Baudelaire, Pedro Tierra e, na prosa, admiro João Guimarães Rosa, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Ernest Hemingway, cujo livro “O velho e o Mar” já o reli quatro vezes; cito também, como meu escritor predileto, Gabriel Garcia Marques, como é maravilhoso. Cem Anos de Solidão! É puro êxtase.

Digo com ironia que não consegui ser nada na vida, inventei de ser poeta, não sei se sou dos bons.

Trabalho na Prefeitura Municipal de Açucena, no setor de fiscalização. Como podem ver, sou funcionário público. Como dói, como diria Drummond.

Girvany de Morais


SELEÇÃO DE POEMAS

A MORTE DA POESIA

A poesia saiu a caminhar pela cidade e tinha chovido,
veio um carro em alta velocidade e jogou lama na poesia,
em seguida veio um carro velho e jogou dióxido de carbono na cara da poesia, como vivia no mundo da lua, quase foi atropelada por um motoqueiro que a xingou:
— Saia do meio da rua, filha da puta. Veio a bicicleta que desviou dela numa fração de segundos,

veio o cavaleiro esporeando seu animal e quase a pisoteou,
a moça que sonhava com seu namorado nem deu bom dia,
o político que cumprimentava seus eleitores, nem a reconheceu, poesia não dá voto.
A louca a falar mal dos problemas da cidade a xingou – Vá caçar serviço sua vagabunda!
O policial quase a prendeu por vadiagem, os cães a lambia,
o pedreiro nem dava importância, tinha paredes a levantar, o gari quase a varreu, o professor, fez troça: afinal era de exatas o homem

de negócios a odiou ,não cogitava a hipótese de perder tempo, a municipalidade pensava seriamente em decretar a sua inutilidade pública, e varrê-la através de Decreto Municipal para outras bandas.

 


A ZÉ CELSO

Um louco tropical desfila em terra brasilis,
o seu coração está pleno de plumas e paetês, arlequim desvairado, transfigurando em terras tupiniquins, os seus delírios,
lembrando que na terra dos falsos Messias,
é sempre desejos latentes,
a inundar nossos corpos lascivos.

 


DESJEJUM

Traga-me café com leite, pão com manteiga, degustarei como se fosse um banquete real.
Traga-me um guardanapo, que é pra limpar os restos
como convém as boas normas de educação,
e depois de saciada a fome, andar a esmo,
digerir o tempo.

 


HOMOFOBIA

Ouvi uns que gritavam nomes feios.
Vi outros armados de pau, senti o cheiro daqueles que exalavam ódio.
Ouvi a maldição dos crédulos, que entoavam as suas iras
nos altares.
Vi os homens que marcharam pela moral e bons costumes. vi os jornais, vi as TVs, ouvi o
rádio, propagando as suas ideias. vi o cerco fechado,
vi o beco sem saída,

quando ouvi outros que gritaram: VIVA O AMOR!!!

 


LAMENTO

O Rio Santo Antônio deságua nas minhas veias,
e transborda no meu coração, por isso minha saudade está inundada
de sonhos, e desejos de navegar.