Dias e mais dias com poemas nórdicos todo dia!

Dia desses eu estava pensando sobre poesia, mais precisamente sobre a poesia nórdica, sobre o quanto eu desconheço a poesia nórdica. Percebi em mim essa lacuna, dentre outras. Pensei em pesquisar, buscar algumas fontes, descobrir se alguém andava traduzindo os versos do Norte. E eis que esbarro, na timeline da artista visual, poeta e professora Laura Erber, no Facebook, a dica dessa página chamada Um poema nórdica ao dia, que publica, como o nome promete, um poema de poetas nórdicos por dia. Gente, nem acreditei!

Na mesma hora entrei em contato com os responsáveis por esse belo trabalho, o tradutor Luciano Dutra e a tradutora, poeta e pesquisadora Francesca Cricelli, pois isso é pra ser divulgado, espalhado por aí feito semente, e a Revista Kuruma’tá tá aqui pra isso mesmo!

Agradeço muito à generosidade dos dois em escrever o texto que se segue e apresentar na nossa revista uma seleção tão precisa e comovente de poemas. Bora ler poesia!

Toinho Castro (Editor)


Apresentação e seleção de poemas de Francesca Cricelli e Luciano Dutra | Um poema nórdica ao dia


A página “Um poema nórdico ao dia” foi idealizada e conta com a curadoria de Luciano Dutra, tradutor literário gaúcho radicado em Reykjavík, capital da Islândia.

O que começou como um projeto pessoal espontâneo do tradutor e, como tal, totalmente despretensioso, é hoje uma das maiores referências, na rede, de poesia contemporânea nórdica traduzida para a língua portuguesa. A página hoje em dia conta com a colaboração fixa e esporádica de alguns colegas tradutores, dos mais experientes aos iniciantes. Entre os tradutores colaboradores fixos há Fernanda Sarmatz Åkesson, que mora há uns vinte anos em Estocolmo e é a mais prolífica tradutora do sueco para o português na atualidade — já traduziu dezenas de obras de literatura infantojuvenil, novelas policiais e obras de não-ficção, abarcando autores como Karin Boye, Astrid Lindgren, David Lagercrantz e Håkan Nesser, mas que estreou como tradutora de poesia na nossa página; e Leonardo Pinto Silva, que traduziu do norueguês, entre outros, o primeiro volume de Minha vida (Min kamp) de Karl Ove Knausgård, O mundo de Sofia (Sofies verden) de Jostein Gaarder, além de uma caixa reunindo quatros das peças mais importantes de Henrik Ibsen (Espectros, Um inimigo do povo, Hedda Gabler e Solness, o construtor). Recentemente, recém chegada a Reykjavík, agregou-se a colaboração da tradutora, poeta e pesquisadora Francesca Cricelli, doutora em Literaturas Estrangeiras e Tradução pela USP, que já verteu ao português autores como Giuseppe Ungaretti, Igiaba Scego, Elena Ferrante e muitos outros, e começa agora a traduzir poemas do islandês também como processo de estudo e método de aquisição de linguagem. Também já colaboraram com traduções a poeta, professora, artista plástica e pesquisadora Laura Erber, que atualmente reside em Copenhague, e Karl Erik Schøllhammer, professor, pesquisador e tradutor, além de Helen Beltrame-Linné, jornalista, advogada e cineasta residente em Estocolmo.

A cada dia da semana é apresentado um poema de uma língua nórdica e sua tradução. Alteram-se textos escritos por mulheres e por homens. A seleção é ampla e heterodoxa, lançando ao mundo lusófono poetas mais conhecidos e renomados, mas também jovens descobertas da poesia nórdica. Segunda-feira é o dia do feroês: apresentamos aqui o poeta Carl Jóhan Jensen, cujo livro Nona manhã foi traduzido e publicado no Brasil pela Editora Moinhos e pela Sagarana forlag (2017) e a jovem poeta Anna Malan Jógvansdóttir. Já terça-feira é o dia do sueco finlandês: destacamos aqui a poeta Edith Södegran, que também será publicada no Brasil com tradução de Luciano Dutra, e o poeta Bo Carpelan. Quarta-feira é o dia do dinamarquês: ressaltamos aqui a poeta Inger Christensen e o poeta Halfdan Rasmussen. Quinta-feira é o dia dedicado ao bokmål, uma das variantes do norueguês: desse idioma, trazemos aqui Stein Mehren e Tone Hødnebø. Sexta-feira é o dia do sueco: desse idioma, realçamos aqui poemas de Tomas Tranströmer e Athena Farrokhzad. Sábado é o dia do islandês: seguimos aqui com a poeta Soffía Bjarnadóttir e o poeta Jónas Reynir Gunnarsson. Por fim, domingo é o dia do nynorsk, a outra variante do norueguês: desse idioma, propomos nesse espaço os versos de Olav H. Hauge e Maja Anette Flønes Monsens. Boa leitura!


[segunda-feira, feroês]

SEI

Sei
que o meu amor
não é uma luz
capaz de clarear
a sombria falta de sentido
do mundo
Sei
que o meu amor
às vezes pesa
— e oprime pois carrega
o vazio pela vida afora
— Mas também sei
que o meu amor é
batida do coração
golpeando no meu peito
e sei
que se o meu amor
ao menos foi capaz de pôr
um sorriso nos teus lábios
então ele não é em vão

(traduzido do feroês por Luciano Dutra para o livro “Nona manhã – herbário poético” de Carl Jóhan Jensen, publicado recentemente em Belo Horizonte pela editora Moinhos, em coedição com Sagarana forlag de Reykjavík)

[EG VEIT]

Eg veit
at ást mín
ikki er ljós
ið kann fjala
heimsins myrka
meiningarloysi
Eg veit
at ást mín
tíðum er tung
— knúvgandi tí
ið tómleikan ber
gjøgnum lívið
— Men eg veit
at ást mín er
hjartaslátturin
dukandi móti bringu
míni
og eg veit
at um bert ást mín bar
eitt bros at varrum tínum
var hon ikki til fánýtis

(Carl Jóhan Jensen)

++++++++++

me enterro terra abaixo
aperto as pernas contra o corpo
sou uma semente
jazo aqui
choro até transformar minha cova em barro
rego a mim mesma
até brotar
eu
organismo apodrecendo
autofertilizante
cresço e me transformo em rubra flor carnívora
como cada um que se acerca
chupo e engulo até a medula
melhor comer
do que ser comida

(traduzido do feroês por Luciano Dutra)

eg gravi meg niður í moldina
trýsti beininni tætt móti kroppinum
eg eri eitt fræ
liggi her
gráti mína grøv til runu
vatni meg sjálva
inntil eg spíri
eg
rotnandi gøgn
sjávtaðandi
vaksi til reyða kjøtetandi blómu
eti hvørt mannfólk sum nærkast
sleiki og slupri mergin í meg
heldur eta
enn verða etin

(Anna Malan Jógvansdóttir)


[terça-feira, sueco finlandês]

TRIUNFO DE EXISTIR

De que tenho medo? Eu, que tenho parte com o infinito.
Eu, que tenho parte com a força ingente da totalidade,
mundo só entre milhões de mundos,
como estrela de primeira grandeza que afinal se apaga.
O triunfo de viver, o triunfo de respirar, o triunfo de existir!
O triunfo de sentir o tempo gélido escorrendo nas artérias,
escutar a enxurrada silenciosa do tempo
e pisar na montanha sob o sol.
Caminho no sol, piso no sol,
não sei de mais nada além do sol.
Tempo — transformador, tempo — destruidor, tempo — encantador,
vens trazendo novas tramas, mil artimanhas, para me propor outra existência
como sementinha, cobra enrodilhada, atol em pleno oceano?
Tempo — tu, assassino — afasta-te de mim!
O sol enche o meu peito de um doce mel até transbordar e me diz:
“Um dia todas as estrelas hão de se apagar, mesmo assim elas brilham sem medo o tempo todo”.

(traduzido do sueco finlandês por Luciano Dutra)

[TRIUMF ATT FINNAS TILL]

Vad fruktar jag? Jag är en del utav oändligheten.
Jag är en del av alltets stora kraft,
en ensam värld inom miljoner världar,
en första gradens stjärna lik som slocknar sist.
Triumf att leva, triumf att andas, triumf att finnas till!
Triumf att känna tiden iskall rinna genom sina ådror
och höra nattens tysta flod
och stå på berget under solen.
Jag går på sol, jag står på sol,
jag vet av ingenting annat än sol.
Tid — förvandlerska, tid — förstörerska, tid — förtrollerska,
kommer du med nya ränker, tusen lister för att bjuda mig en tillvaro
som ett litet frö, som en ringlad orm, som en klippa mitt i havet?
Tid — du mörderska — vik ifrån mig!
Solen fyller upp mitt bröst med ljuvlig honung upp till randen
och hon säger: en gång slockna alla stjärnor, men de lysa alltid utan skräck

++++++++++

Pedra sobre pedra viga sobre viga
entre pedra madeira e ar
erva viçosa crescendo
uma árvore numa fenda na fachada de um prédio
grotescamente contra toda a expectativa
erva e erva-daninha em calado conluio
cheiro de couro ao vento
flores como que pisoteadas e reerguidas
sob automóveis pés ou brotando
da rocha
num caos tenaz e minuciosamente mapeado

(traduzido do sueco finlandês por Luciano Dutra)

Sten på sten bjälklag på bjälklag
mellan sten trä och luft
gräs tåligt växande fram
ett träd ur en spricka i en husfasad
groteskt mot allt hopp
gräs och ogräs i tyst samförstånd
doften av läder i vinden
blommor som hade de slagits och återuppstått
under vagnar fötter eller slagit ut
ur berg
i ett segt noggrant kartlagt kaos

(Bo Carpelan)


[quarta-feira, dinamarquês]

MÊS DA FEBRE

Quem já viu setembro
o mês da febre, em brasa,
sabe que uma primavera está viva
embaixo de cada folha morta,
sabe que antes que a vida caia,
suporta os encargos da queda.
O tempo foi afetado pela febre.
Mas no espaço do nosso tormento
inflamado, em brasa, o sono
nos doou o sacramento.
A tempestade de febre se curvou,
devastou e reuniu.
De pé, rodeados pelo fogo,
procurando a graça da vida
um silêncio atingiu os fios quebradiços
nervosos do coração.
Sobre a nossa curva de febre
ouvimos o canto dos pardais.
As sombras não nos encontraram.
O sono tornou-se sonho e pensamento.
Enquanto a noite ainda nos ligava
ouvimos bater o coração.
Algo se aproximou. E névoas
distantes se tornaram sol e estrela.
A luz apareceu e tocou
suavemente os metais mudos,
pediu-lhes para inserir sons
num salmo abafado,
pediu-lhes para badalar
sobre tudo o que dorme fora do tempo.
Em chamas emergimos do reino
febril das sombras.
Emergido e ressuscitado,
não podíamos ceder.
Com calma, quem luta
encontrará o setembro de sua vida.

(traduzido do dinamarquês por Laura Erber e Karl Erik Schøllhammer)

[FEBERMÅNED]

Den som har set september,
febermåneden, gløde
ved at et forår lever
under hvert blad som døde,
ved at før livet styrter
bærer det høstens byrder.
Tiden blev ramt af feber.
Men i vor kvals betændte
glødende rum har søvnen
skænket os sakramente.
Feberens storm har bøjet,
hærget og sammenføjet.
Stod vi, af ild omkranset,
søgende livets nåde,
ramte en stilhed hjertets
bristende nervetråde.
Over vor feberkurve
hørte vi sang af spurve.
Skyggerne fandt os ikke.
Søvnen blev drøm og tanke.
Endnu mens natten bandt os
hørte vi hjertet banke.
Noget kom nær. Og fjerne
tåger blev sol og stjerne.
Lyset blev til og rørte
blidt ved de stumme malme,
bad dem at lægge toner
ind i en dæmpet salme,
bad dem at kime over
alt hvad der tidløst sover.
Flammende steg vi gennem
feberens skyggerige.
Løftet og genopstandne
kunne vi ikke vige.
Roligt skal den som kæmper
møde sit livs september.

(Halfdan Rasmussen)

++++++++++

A minha casa é um bosque de bétulas na tempestade
mantém a terra firme
a minha casa é o vidro da janela sob a saraivada de granizo
mantém a parede firme
a minha casa é uma dor na pelve
mantém o corpo firme
Frágil é a minha casa
segura firme no ar rarefeito do amor

(traduzido do dinamarquês por Luciano Dutra)

Mit hus er et birkekrat i stormen
det holder jorden fast
mit hus er en rude under haglbygen
den holder muren fast
mit hus er en smerte i underlivet
den holder kroppen fast
Svagt er mit hus
klynger sig til kærlighedens tynde luft

(Inger Christensen)


[quinta-feira bokmål, uma das variantes do norueguês]

SUSTENHO TUA CABEÇA

Sustenho tua cabeça
em minhas mãos, como susténs
meu coração em teu desvelo
assim como tudo sustém e é sustido
por algo além de si mesmo
Assim como o oceano soergue uma pedra
até suas areias, assim como a árvore
sustém os frutos maduros do outono, assim
como o planeta soergue-se em sua órbita
Assim como somos ambos sustidos por algo e soerguidos
teu enigma sustém um enigma em sua mão

(traduzido do norueguês-bokmål por Luciano Dutra)

[JEG HOLDER DIT HODE]

Jeg holder ditt hode
i mine hender, som du holder
mitt hjerte i din ømhet
slik allting holder og blir
holdt av noe annet enn seg selv
Slik havet løfter en sten
til sine strender, slik treet
holder høstens modne frukter, slik
kloden løftes gjennom kloders rom
Slik holdes vi begge av noe og løftes
dit gåte holder gåte i sin hånd

(Stein Mehren)

++++++++++

OH, AMADO, FICA NO MEU CORAÇÃO

Oh, amado, fica no meu coração,
o peso dos amantes,
o peso da solidão me afoga.
Ouço minha própria voz
e é como se ouvisse outro alguém
dizer tudo que só eu sabia
daquele a quem amei.
Poderia cair morta
e então começar a falar
como se houvesse uma maldição
que me tornasse meu próprio inimigo,
aquele a quem amei.
Ouço minha própria voz,
oh, fica no meu coração, amado
e sem essa candura
estarás preso ao abismo dos infernos,
tu, o único a quem amei.

(traduzido do norueguês/bokmål por Leonardo Pinto Silva)

[Å ELSKEDE, BLI I HJERTET MITT]

Å elskede, bli i hjertet mitt,
vekten av elskere,
vekten av ensomhet drukner meg.
Jeg hører mine egne ord
det er som å høre en annen
snakke om alt bare jeg visste om,
om den ene som jeg elsket.
Jeg kunne falle død om

og så begynne å snakke
som om det skulle eksistere en forbannelse
som gjør meg til min egen fiende,
den ene som jeg elsket.
Jeg hører mine egne ord,
å, bli i hjertet mitt, elskede
og uten denne åpenhjertigheten
sitter du fast i helvetes avgrunner,
du, den eneste som jeg elsket.

(Tone Hødnebø)


[sexta-feira, sueco]

AS PEDRAS

As pedras que jogamos, ouvi-as caindo
claras como vidro, ao longo dos anos.
No vale, os desatinos do instante
voam ruidosamente
entre as copas das árvores, emudecem
no ar mais tênue que o agora, deslizam
como andorinhas entre os topos
das cordilheiras até chegarem
aos platôs mais elevados
ao lado da fronteira por toda a existência.
Lá, todos os nossos atos
despencam claros como vidro
no fundo de nada
além de nós mesmos.

(traduzido do sueco por Luciano Dutra)

STENARNA

Stenarna som vi kastat hör jag
falla, glasklara genom åren. I dalen
flyger ögonblickets förvirrade

handlingar skränande från
trädtopp till trädtopp, tystnar
i tunnare luft än nuets, glider
som svalor från bergstopp
till bergstopp tills de
nått de yttersta platåerna
utmed gränsen för varat. Där faller
alla våra gärningar
glaskara
mot ingen botten
utom oss själva.

(Tomas Tranströmer)

++++++++++

CRIANÇA-ÂNCORA (I)

É o dia do sangue
É a noite da terra
Solta agora a borda do barco, meu tesouro
Uma criança nasceu nesse dia
Uma criança será ancorada
Uma criança dará à mãe direito à terra
Uma criança irá preparar o caminho
Que criança não é uma criança-âncora
Que mãe não se agarra ao solo
É a noite do sangue
É o dia da terra
É um porto inseguro apesar
de o colo materno ensinar
a criança a ciciar o nome do mar

(traduzido do sueco por Fernanda Sarmatz Åkesson)

[ANKARBARN — I]

Det är blodets dag
Det är jordens natt
Släpp nu relingen, lilla skatt
Ett barn är fött på denna dag
Ett barn ska förankra
Ett barn ska ge sin mor rätt till jord
Ett barn ska väg bereda
Vilket barn är inte ett ankarbarn
Vilken mor griper inte efter bottnar
Det är nattens blod
Det är dagens jord
Det är en otrygg hamn
Trots att moderns famn
lärt barnet viska havets namn

(Athena Farrokhzad)


[sábado, islandês]

Estão tocando bandolim no banheiro
e eu sento-me na cadeira de balanço e finjo contar
dinheiro enquanto a máquina de lavar termina o ciclo
com as meias
dos soldados bípedes que passam
após a última guerra
meus seios começam a cair
como se fosse a coisa mais natural
e corto os meus cílios
as unhas do pé
e um dos mamilos.
Com a pistola no esterno
peço silêncio à mesa de jantar.
Fique em casa

(traduzido do islandês por Francesca Cricelli)

Það er verið að spila á mandólín á baðherberginu
og ég sest í ruggustólinn og þykist telja
peninga á meðan þvottavélin klárar
sokka
tvífættra hermanna sem litu við
efitr síðasta stríð
brjóstin á mér eru farin að síga
eins og ekkert sé eðlilegra
og ég klippi af mér augnhárin
táneglurnar
og aðra geirvörtuna.
Með byssuna við bringubein
bið ég um þögn við matarborðið.
Vertu heima

(Soffía Bjarnadóttir)

++++++++++

Quando neva a cidade torna-se uma pintura
que descasca da tela
o espaço vazio se expande
a distância entre nossas casas desaparece no vazio branco
como a mente de uma velha que começa a esquecer

(traduzido do islandês por Francesca Cricelli)

Þegar snjóar verður borgin málverk
sem flagnar af striganum
auða rýmið stækkar
fjarlægðin á milli húsanna okkar er að hverfa í hvíta auðn
eins og hugur gamallar konu sem farin er að gleyma

(Jónas Reynir Gunnarsson)


[domingo, nynorsk outra variante do norueguês]

DE “A BOCETA E O MAR”

Eu sou o sebo
pelos teus braços
sovacos
e mamilos
você vai trabalhar com
sebo de boceta
no focinho
*
sair dedando bocetas
por aí
não é o mesmo
que trepar
*
Pouso os lábios
nas suas costas
nós nunca dissemos
que é assim
o mar tem na boca
tantos cadáveres
*
No mar de braços e pernas
abro a boca
e grito
não vamos nos atar um ao outro
a franja das ondas
nos alcança
você deixa
de escutar

(traduzido do norueguês/nynorsk por Leonardo Pinto Silva)

[FRA „FITTA OG HAVET“]

Eg er smør
i armane dine
utover armhulane
og brystvorta
du går på jobb med
fittesmør
i trynet
*
Å ronke i
fitta på folk
er ikkje det samme som
å pule
*
Eg kviler leppene
mot ryggen din
vi har aldri sagt
det er sant
havet har mange
lik i munnen
*
I havet av armar og bein
åpner eg munnen
og roper
vi skal ikkje bindes saman
bølgekanten når
oss
du slutter
å høre

(Maja Anette Flønes Monsens)

++++++++++

UM POEMA A CADA DIA

Quero escrever um poema a cada dia,
a cada dia.
Deve ser fácil.
Browning conseguiu-o por um bom tempo, apesar
de rimar e
marcar o ritmo
com sua sobrancelha arqueada.
Então, um poema a cada dia.
Algo que nos mova,
algo que aconteça,
algo que a gente note.
— Me levanto. Raia o dia.
Sigo bem.
E vejo o dom-fafe revoar da cerejeira
depois de roubar seus casulos.

(traduzido do norueguês-nynorsk por Luciano Dutra)

[EIT DIKT KVAR DAG]

Eg vil skriva eit dikt kvar dag,
kvar dag.
Det må vera liketil.
Browning greidde det lenge, endå
han rima og
slo takti
med buskute augnebryn.
Altso, eit dikt kvar dag.
Eitkvart sviv ein,
eitkvart hender,
eitkvart legg ein merke til.
— Eg stend upp. Det ljosnar.
Har gode forset.
Og ser dompapen lettar or kirsebærtreet
der han stel knupp.

(Olav H. Hauge)