Poemas de Alessandra Martins Revista Kuruma'tá, 20 de julho de 202322 de novembro de 2024 Alessandra Martins nasceu em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, hoje vive entre Brasil e Estados Unidos. É pesquisadora, escritora, poeta, ativista social e autora do livro de poesia marginal Voa, Sankofa, Voa! (Chiado Books, 2021). É graduada em Letras e especialista em História e Cultura Afro-brasileira e Indígena, cursa pós-graduação em Literatura, Artes e Filosofia pela PUCRS e MBA em Marketing pela USP. Jurema Preta Na noitea chuva regouas folhas da umbaúbaque belamente cresceuAo amanheceralfazematomilho, funcho e alecrimno jardim floresceu Verde, vida, amorAs borboletas passeiamO vento suspiraA abelha namora a flor Ela nasceu no invernoIntensa.É de Osun – além deamarela, também ama azul Ar fresco, sombra, floresela sente que renovaela sente que é elaRadianteJurema Preta é o nomedela Ao falarao olhar ao sorrironde ela chegatraz coresbelezafaz o dia florir Seu aroma é fortecítricoexala capim limãoao caminhar todos a olhampresença marcantetem o mundo nas mãos Ela brilha concomitantecom o sol no horizonteo som do atabaque seencontra com o seucoração de poesiapulsante Tudo ecoaSão sons de vida Ela desperta do sonoEm seu sonho se vêsambando Entre flores degirassolToma banho dearrudaE os aromas semisturandoespalhandoa terracontagiandofloresfolhasenergiaO chocalho agita nomorro Ao subir a ladeirachegando pedeagô e fala adupé!Ela reverbera sua luzOs irmãosrespondem axé! Bicho solto Espírito meu,teu, nossoNasceu paraser livre. Não se deixeaprisionar.Não permitagrilhões nosseus tornozelos,nem correntesnos seus pulsos. Nada que te façaparar.Grades? Corte-as!Fechaduras? Quebre-as!Cordas? Arrebente-as! Não permita quete impeçam de vero infinito do céu.Lute, mas tambémDescanse. Aproveite asabundâncias da vidaSaboreie do néctar,do mel.Permita-se ser amadoe amar.Viaje, dance, beije,viva, voe, navegue.Descubra o infinitodo céu, a imensidãodo mar. Negra Soul Eu sou a negra quevocê olhae acha que nãovai conseguir. Eu sou a negraque vocêtentou diminuir. Eu sou a negraque vocêxingou, bateu. Eu sou a negraque vocêdesmereceu. Eu sou a negraque vocênão quis namorar,muito menos se casar,só comeu. Eu sou a negra paradano canto. Eu sou a negra queacorda e vai dormir aosprantos.Eu sou a negra que naescola você apelidou,que na vida vocêengravidou e abandonou. Eu sou a negraque vocêmanipulou e queno passado se odiou. Eu sou a negraquevocê mata e não dá em nada. Eu sou a negra quevocê diz ser moreninha,mulata e parda. Eu sou negra!A mesma negra quevocê passou a mão,a mesma que vocêenxergacomo produto, objeto,exploração. Eu sou a negraque é negra. Que temconsciência e orgulhono peito.Que é humana emerece igualdade e respeito. Eu sou a negra quehonra seus ancestrais.Que sobrevive e viveconquistando seusideais. Sou a negra que nopassado e no presentelutou e luta por libertação. Eu sou negra! Sua lança não podemais me atingir.Porque você querendoou não.Eu existo e vou resistir. Você tentou me calar, mas minha história não seuapagou.Negra de corpo e alma. Negra soul. Poesia Poesia