Comentário a respeito do livro A última noite de José Wilker, de André Balaio

Texto de Toinho Castro

Uma grande alegria me veio ao ler o primeiro parágrafo do novíssimo livro de contos, ou melhor, histórias, do querido amigo André Balaio. Ler livros das amizades é sempre uma grande armadilha, até que se confirme como algo maravilhoso. E é, por fim, uma maravilha a leitura de A última noite de José Wilker, publicado pela Caos & Letras. Balaio sabe escrever, e a gente sabe que saber escrever não é alinhavar letras e palavras em frases e parágrafos, mas envolver, tecer um espaço de pertencimento, de encontro. Nesse espaço se desenrolam as histórias, as lendas e mitologias, as invenções humanas para transcender nossa limitada presença no mundo.

A sensação é de que cada página virada dos contos de Balaio nos atrai, segurando nossa mão, para um mundo de espelhos levemente distorcidos. Há algo de (Jorge Luis) Borges perscrutando os parágrafos. Não é exatamente fantástico, no sentido de gênero literário. Mas o tempo inteiro, sentimos algo a espreita. Algo imperceptivelmente fora do nosso controle. Esse espaço de encontro que André tão habilmente descortina (porque ele já existe em algum lugar. E isso é assustador e fascinante), é um espaço de encontro com o inusitado, com o inesperado; pequenos desvios em que o mundo se transforma e somos arrebatados por uma estranheza.

São quatro contos e uma pequena, mas notável, novela, que dá título ao livro. Que coisa bonita alguém que gosta de escrever assim, que se dá ao prazer de construir cenários, personagens reais (mas como nos espelhos), e acontecimentos que se desenrolam com desenvoltura, sem tropeços. Nos enlaçando, nos enredando e nos entregando algo que só a literatura pode nos entregar, porque é isso que André Balaio, habilidosamente faz: literatura.

A última noite de José Wilker é um desses livros que eu adoraria ter encontrado por acaso, num sebo, na banca do Olivar, lá na Carioca… Porque seria uma espécie de operação de magia, muito condizente com as narrativas que o atravessam. Incauto leitor, se em 20 anos você esbarrar com esse livro num sebo, compre! Será estranho, e bonito.

PS. André, eu sei, amo o cinema. E o cinema está ali em cada página. Assisti muitos filmes lendo esse livro.