Independência Poética: Alyne Castro

Independência Poética é uma série de entrevistas realizadas por LORENA LACERDA

Poeta de hoje: Alyne Castro

Designer de comunicação, poeta, ilustradora, contadora de histórias, virginiana, druidesa, mãe e uma caminhante dos sonhos. Fui tantas, sou tantas e serei tantas de mim, que abraço por inteiro quem sou, na minha pluralidade e singularidade. Brincando com minha loucura e me deliciando com ela.

O que te inspirou a começar a escrever?

Aprender a ler. Ler histórias e poder fazer parte delas sempre foi magia para mim. E queria poder dar essa magia a todos. Desde que aprendi a escrever crio pequenas rimas, escrevo cartas e tento eternizar momentos com poesia. Escrever é isso, eternizar momentos e emoções, preencher uma folha em branco com ideias, sensações, que pode até não fazer sentido, mas foi necessário naquele momento. A possibilidade de colocar em frases o que em alguns momentos não se consegue falar. O universo de possibilidades de interpretação do que constar num micro poema.

O que você faz quando percebe que está com bloqueio para novas poesias?

Caminho, vou a um café, observo a vida que pulsa ao meu redor. Coloco uma música que ressoa no momento em meu coração para tocar mil vezes e danço. Meditar também tem me ajudado, rsrs, acalma a mente e coloca algumas coisas em ordem. Minha espiritualidade também me inspira diariamente, a conexão com minha soberania e natureza.

Seu maior sonho como escritor(a)?

Penso que seja pertencer. Pertencer a um momento. Que pelo menos um poema pertença ao momento de alguém, que faça sentido e traga emoção. Que emocione.

Assunto preferido de escrever?

Escrevo poemas, poesia confessional. Gosto de escrever sobre o cotidiano, as sensações que tenho. Sobre espiritualidade. E estou me aventurando em contos.

Um elogio para sua própria escrita?

Depois de tanto ter medo, ela sai sem medo.

Já publicou algum livro? Quais? Caso não, tem planos?

Participei de duas coletâneas: I Tomo das Bruxas – Do ventre a vida e Coletânea Semente Poética – Turma 4 da Yara Fers. E lancei um livro artesanal, pela editora Arpilerra, chamado Onirismo.

Quais inspirações do cotidiano despertam sua escrita?

Meu filho, minhas práticas espirituais, um café, olhar pela janela. Escutar a conversa de alguém sentado próximo. Quando a gente se permite sair do automático, a vida é um prato cheio de sabores e aromas a serem absorvidos e vivenciados e isso é inspiração pura.

Qual dos seus poemas mais te define?

Anatomia, que está no meu primeiro livro de poesias, Onirismo

Qual a parte mais fácil e mais difícil da escrita para você?

Nos dias de muita inspiração, as palavras fluem, e fica fácil. Escrever sobre o que sinto, vivencio, sobre o que acredito é fácil. Ando sempre com caderno e pequenos blocos, para escrever no momento que a inspiração vem. Envio áudio para mim mesma quando não consigo escrever. O mais difícil é se estou preparada para colocar num papel o que estou sentindo, se estou preparada para ser lida. Algumas palavras são íntimas demais, mas precisam ser escritas.

Qual sua obra favorita de outro autor(a)?

Tenho algumas, O oceano no fim do caminho do Neil Gaiman. Sobre a escrita do Stephen King. História sem fim do Michael Ende. The Awful Rowing Toward God (O Terrível Remar Rumo A Deus) de Anne Sexton.


Um livro de Alyne Castro

Nome da obra?

Onirismo

Quando e em qual editora foi publicada?

Publicado em Abril de 2023 pela Editora Arpillera.

Existe um tema central nos seus poemas/poesias? Qual?

No Onirismo, o tema é sobre o sonhar, sobre insônia, sobre minha relação com o onírico.

As poesias são divididas em fases nessa obra? Se sim, o que te motivou a fazer isso?

Não. Elas são um convite para sonhar.

O que te incentivou a escrever esse livro?

Escrever um livro sempre foi um sonho. E tinha tanto medo de realizar que fiquei empurrando e me escondendo atrás das minhas inseguranças e medos. Até que resolvi ser apenas eu e nada mais. Ser dona de mim e da minha soberania, e escrever sempre fez parte de mim, e sempre esteve presente em todos os momentos da minha vida. Então, relendo meus poemas, percebi um tema constante: o universo dos sonhos Coincidiu com o chamado de lançamento da editora Arpillera, que tem a proposta de ser subversiva e artesanal, e resolvi tentar. Reuni meu sonho e poemas sonhos e enviei o manuscrito. E foi uma felicidade ser selecionada.

É possível destacar uma poesia que mais se assemelha a seu cotidiano?

Sim, A arte negra diálogo com Anne Sexton.

A sequência dos poemas conta alguma história?

Conta sobre sonhos, insônias e vigílias. Sobre se permitir delirar, fantasiar e, também, despertar.

Existe algum posicionamento político ou cultural na obra?

Respirar é um ato político. Então gosto de pensar que meus poemas e a realização do sonho de lançar meu livro, seja inspiração para que as pessoas percebam que é possível sim acreditar em um sonho e ele se tornar realidade. Que sonhar, desejar é subversivo, é combustível para lidar com os dias ruins e fazer acontecer uma real mudança em sua vida. Que acreditar em si mesmo e em seu potencial é resistir.

Qual a relevância dos personagens implícitos/explícitos da obra?

É sobre a importância de sonharmos

Qual a poesia mais marcante desse livro?

É um poema que não tem título, mas que tem muitas sensações.

“às vezes, me perco além do olhar

vejo futuros possíveis, passados refeitos

rostos que já não estão mais aqui

imagens dançam em minha frente

e bailo com elas sob os raios de sol

então percebo que estou de olhos abertos

 

a mente deseja que seja real

estico os braços para sentir

mas, como nuvem

tudo se dissipa

onde foi parar?

em algum lugar entre lucidez e delírio

respiro fundo e fecho os olhos

sem adormecer, me percebo desperta

sem enlouquecer, caminho fingindo

fingir normalidade é o que me resta

até a noite chegar e poder mais uma vez sonhar”