Cabo de Vassoura | Miniconto de Mayra Alpine Revista Kuruma'tá, 27 de março de 202527 de março de 2025 Uma pequena história que retrata um pensamento ansiosono qual já me encontrei algumas vezese que pude relacionar a outras analogias da vida — Mayra Alpine Meus ombros já estão cansados. Principalmente o ombro esquerdo. É o ombro que suporta mais confortavelmente esse tipo de alça de mala. No outro fica a bagagem mais leve. Às vezes os troco, mas o ombro direito não sustenta muito e logo acovarda. Cada ombro tem sua mala, entende? Dói demais. Minha vizinha dizia que de tanto carregar mala, ficou torta. Corcunda, mas não para frente, para os lados. Nessa história, teve que se adestrar com vassoura. Botava a vassoura no ombro e tinha que caminhar. Pra lá e pra cá. Sou eu que me boto nessa situação, para que tanto troço? Você entende que não é culpa minha, três peças de roupa já faz um estrago enorme e você precisa arrumar uma vassoura. Têm bem mais de três peças aí, se é como eu tô lembrando. É, mas nem são pesadas, são leves, bem leves mesmo, daquele pano macio, leve. Leve. Tá calor, abafado. Que tempo quente. Um monte de pano leve junto dá um prejuízo e o ombro cai para os lados e precisa arranjar uma vassoura. Você sabe que tem que escolher um par de sapatos, dois não dá. Sapato vai no pé, não no ombro, você sabe. Tempo quente assim, abafado, quente, é indício de chuva. Lembra? Frente fria, no mínimo. Vai chover, parece que alguém varreu o céu. Isso é chuva, sugere chuva. Se chover, vai fazer frio à noite, sempre faz, assim que acontece quando chove essas horas. Tá tarde, tá ficando tarde. Entende que sua roupa leve tá doendo, mas não vai servir de nada? Se chover enquanto eu estiver aqui, esperando, vai ser sofrido. Minha pele vai ficar úmida, meu pé vai grudar no chão. Meus dedos vão ficar melados da mesma maneira que meu pé vai colar no chão. Tá tão pesado. — Querida, você tem horas? A