A Lenda da Sereia Katuapó, pelo Mestre Tinga das Gerais

Mestre Tinga – Fonte da foto: Blog Preta Joia

Mestre Tinga das Gerais é ator, cantor, compositor e poeta, natural de Corinto, centro geográfico de Minas Gerais.

O Vento que viaja lá nas barrancas do Rio das Velhas, conta a lenda da Sereia Katuapó ao Raimundo do Bento.

Ela é metade índia e a outra metade, peixe. Loira, olhos verdes e tem os cabelos longos que carregam uma enorme pena de Arara e gosta de se perfumar com as flores do cerrado. Carrega um espelho, onde fica a contemplar a sua beleza. Se quiser ver o lindo sorriso da Sereia Katuapó é presenteá-la com as flores do cerrado.

Nas noites de lua cheia, pontualmente à meia-noite, as águas dos rios silenciam e nas grandes pedras das barrancas a Sereia Katuapó pode aparecer com seu canto, encanto e magia.

Os pescadores se embriagam com aquela melodia tão linda que até as estrelas saltitam no firmamento.

Sabendo desta lenda, o Raimundo do Bento saiu no final da tarde a colher belas flores de Ipê e flores de Alecrim do campo, para presentear a bela Sereia Katuapó.

Em silêncio ele prepara a tarrafa, a rede, confere o remo e dentro dele a esperança de encontrar aquela Sereia tão linda que o vento dissera.
Ele ergue os olhos aos céus, e a tarde indo embora sem pressa é presságio de uma noite de mistérios e desejos daquele que quer desvendar um enigma às margens do glorioso Rio das Velhas.
Alguns pescadores retornando das suas sagas,notava-se que pelas remadas o cansaço imperava, mas, era mais um dia de busca pela sobrevivência.

Anoiteceu e o Raimundo do Bento vendo que já aproximara a meia-noite, saiu para a pescaria a qual ele fazia com gosto e também para realizar um desejo e poder contar mais uma história em suas andanças e paragens.

Num passe de mágica, o vento se assanha e o redemoinho na noite fica iluminado, as estrelas bailavam na imensidão, a lua faceira se apresenta em suas quatro fases, as águas do rio paralisaram e nas corredeiras se transformaram num espelho e dele exala um perfume indecifrável que alastra nas barrancas do Rio das Velhas e faz girar a canoa do Raimundo do Bento.

De repente, tudo para e ele sentiu o silêncio profundo à sua volta e num clarão sobre a pedra, lá estava a Sereia katuapó, linda e maravilhosa, espelho na mão, cantando em baixo tom. Ele se aproximou da pedra e a presenteou com as belas flores. O sorriso brotou na face da Sereia para a felicidade de Raimundo do Bento.
De repente aquele alvoroço e o encantamento fizeram com que num passe de mágica a Sereia Katuapó – com seu belo canto – os peixes saltarem para dentro da canoa do Raimundo do Bento.

Ali embriagado de alegria e vendo aquela fartura de peixes, Raimundo do Bento agradece:

— Ó minha Sereia! Muitio agardicido! Agora eu tenho alimentação em abundança!

Ela com aquele belo sorriso:

— Ó meu Senhor! Não há de quê! Trouxeste para mim as mais belas flores do cerrado! Agradecida! Vá! Quando precisar de mim é só me chamar, Eu sou a Sereia Katuapó e sempre estarei contigo neste rio.

Ele saiu rio acima e depois de algumas remadas, olha para trás e não mais viu a Sereia katuapó que mergulhou nas profundezas e foi contar a história aos peixinhos.

Trêmulo, o Raimundo do Bento volta para casa numa felicidade incontida e ao longe a mulher e os filhos a espera daquela alimentação.

E a Benedita:

— Nossa home! Dadonde ocê rumô tanto pêxe? Que fartura!

E ele calmamente olhando para o rio:

— Segredo do rio muié! Segredo do rio!

Pela manhã, os Socós, os Biguás, as Garças e toda a passarada, exibiram um cântico exuberante que mais parecia uma orquestra, aos olhos da aurora boreal, com a magia criada por Deus.

Em suas andanças ele conta esta história e à sua volta o silêncio de mulheres, homens e crianças, que atentamente ouvem aquele que com muita maestria colheu as flores no cerrado para ofertar à bela Sereia Katuapó.

E você? Vai pescar hoje?

Vá ao cerrado e colha algumas flores…quem sabe você se encontra com a Sereia Katuapó!

Inté!