O começo do fim do mundo

Texto de Joelson Pranto


Os cientistas extraíram DNA e bactéria de um bloco de gelo encontrado entre três e cinco metros abaixo da superfície de uma geleira na Antártica. Os pesquisadores utilizaram cinco amostras que tinham entre 100 mil e oito milhões de anos. Os micro-organismos voltaram à vida e começaram a se reproduzir quando os cientistas lhes ofereceram calor e nutrientes.

Extraído da edição online do jornal O Globo, do dia 08 de agosto de 2007, às 23h46m


Com notícias assim começa o fim do mundo e ninguém percebe. Dias depois, já tarde da noite no mesmo laboratório, um assistente, sempre o assistente, se contaminou ao manipular as amostras da bactéria, que na verdade veio do espaço sideral. Sim, porque milhões de anos atrás, alienígenas de outro planeta utilizaram a própria Terra como laboratório, na tentativa de produzir vida no nosso planeta. Disseminaram esporos e bactérias, manipularam códigos genéticos e por fim, cansados e com vontade de fazer outras coisas universo afora, abandonaram o planeta e suas experiências ficaram à própria sorte.

A vida, ao contrário do que imaginaram os alienígenas se afastando em suas naves, acabou por florescer e multiplicar-se. Mas na medida em que a evolução seguiu seu curso, coisas inimagináveis ficaram para trás, na sombra das eras geladas, até aquela noite; até aquele assistente esbarrar no que não deveria.

E foi assim que um anônimo começou a pandemia. Incontrolável ela se espalhou de cidade em cidade enquanto no laboratório perdido, onde quase todos os cientistas e médicos já morreram, travou-se a luta final para decifrar os códigos da criatura em busca de uma cura. Logo seria tarde demais…


No vácuo distante as naves poderosas e prateadas movem-se em silêncio. Nos seus interiores arquiva-se os dados do projeto de colonização e produção de vida naquele pequeno planeta, deixado para trás há milhões de anos. Movem-se rápidas, levando a cura a bordo sem sequer imaginar. São seres curiosos mas distraídos, que ainda manipulam as mesmas bactérias mas que já têm em mente novos projetos. Seu cortejo ruma para um novo mundo, cujas análises prévias apontam como promissor. Talvez acabem por abandoná-lo também.

Será que em seu périplo pela galáxia retornarão às vizinhanças da Terra, mundo já extinto e desolado, mas com insuspeitos sinais de uma vida que se desenvolveu, construiu cidades e sumiu sem deixar muitos vestígios?

Lição inestimável: Nunca ofereça calor e nutrientes a uma bactéria.