Pequeno Dicionário de Arquétipos de Massa: O Viajante do Tempo

Texto de Fábio Fernandes


Foto original: Pxhere.com

O Viajante do Tempo vivia no passado. Nunca conhecera momento melhor do que aquele que já se fora e não voltaria mais.

Quando criança, ouvia os discos de 78 rotações do pai e sonhava com um tempo que não conhecera, mas que sem dúvida era melhor do que aquela infância insossa no quintal de terra batida cheio de árvores frutíferas e mil brincadeiras. Para o Viajante, tempo bom era o de seus pais.

Na adolescência, gostava de levar a namorada (que conhecera na infância) para ver o mar, e cantarolar tangos e boleros em seu ouvido. Os boleros naquele tempo eram razoavelmente novos.

Casou-se com ela, teve um casal de filhos. Abriu um brechó. Tinha um carro velho, caindo aos pedaços. Era incapaz de lidar com novidades.

Até que veio a má notícia. Sua mulher tinha câncer.

Ela não durou muito. E o Viajante ficou só, com os filhos, os discos, as lembranças.

Preferiu os discos e as lembranças.

O Viajante nunca mais voltou ao presente.


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