Independência Poética: Giulia Amendola Revista Kuruma'tá, 12 de abril de 202310 de outubro de 2023 Independência Poética é uma série de entrevistas realizadas por LORENA LACERDA Poeta de hoje: Giulia Amendola Nascida no Rio de Janeiro, Giulia Amendola é jornalista e trabalha como assessora de comunicação. Sempre soube que queria viver escrevendo. Aliás, faz isso desde que se entende por gente, primeiro através de diários, depois através de ficção pré-adolescente impublicável e, depois de adulta, através de poesias. O que te inspirou a começar a escrever? Primeiro, porque eu simplesmente precisava. Escrever se tornou uma ação fundamental para os meus dias, como se fosse uma válvula de escape, tanto para as coisas boas, quanto para as ruins. O pouco que eu lembro da minha vida sem escrever é quando eu ainda não sabia fazer isso de fato. [risos] O que você faz quando percebe que está com bloqueio para novas poesias? Antes, eu me angustiava muito com isso. Hoje, entendo que é parte de um processo maior do que eu, muito ligado ao contexto do momento que estou vivendo. Meu bloqueio particularmente não tem a ver com falta de inspiração em si, mas sim com falta de tempo, o que me gera ansiedade. Daí a angústia e a falta de palavra na ponta da caneta. Pra mim, a escrita é um exercício diário, tanto quanto uma atividade física. Se tenho tempo, faço até quando não tenho vontade, pra não enferrujar. Este hábito foi primordial para que o carapuça nascesse. Seu maior sonho como escritor(a)? Eu acho que o meu maior sonho como escritora, até então, era lançar um livro físico. Agora que fiz isso, meu sonho é atingir leitores em diferentes cidades, pessoas fora do meu eixo comum. Assunto preferido de escrever? O cotidiano, as miudezas do dia a dia. A comida que a gente come, a poça que a gente pisa sem querer. Um elogio para sua própria escrita? Acho que a minha escrita é um respiro. E num mundo tão corrido, é importante lembrar de respirar (nem que esse lembrete sirva somente para mim). Já publicou algum livro? Quais? Caso não, tem planos? Sim, lancei o livro de poesias carapuça em janeiro de 2023. Está na segunda tiragem. Já foi enviado para mais de 15 cidades, mais de 4 países diferentes. É muito melhor do que eu jamais imaginei. O carapuça reúne escritos dos últimos 10 anos, mas principalmente do que criei nos últimos três. São poemas que falam sobre amores, corações partidos e perdas, mas acho que, se desse para resumi-lo, acho que ele fala sobre esse processo louco que é se tornar adulto – e entender nosso lugar no mundo. Quais inspirações do cotidiano despertam sua escrita? Qualquer coisa pode ser um “gatilho” para minha escrita. Algo que alguém me diz no trabalho, o latido diferente do meu cachorro, uma comida que comi, alguém que vi no ponto de ônibus, uma letra de uma música, uma história que alguém me contou. O ouvido fica atento a qualquer pequeno detalhe. Qual dos seus poemas mais te define? Sem dúvida alguma, “é de júpiter”, que escrevi em 2014 e está no meu livro. “sábio foi alguém que uma vez disseque a liberdade também aprisionaporque o ser humano está preso em sua própria inérciae por mais que se ache livre,toda vez que estiver frentea mais de uma opçãose corroerá na (in)decisão posso enumerartodas as coisasque pensei que poderia ser:achava, aos quatro,que tocaria violão aos quinze. com cinco, analfabetapensei que um dia leria todos os livros da biblioteca da minha escolae seis anos depois, achava que aos vinte,que nem rimbaud,já teria escrito duas das minhas obras primas. é bem verdadeque nada me impediumas é que o século xxi me convenceuque falta tempo. eu queria é ser de júpiternão conhecer as palavras, os discosnem você. queria ser de júpiteraquele furacão famoso que dá para ver da superfíciea 10 mil anos-luzqueria ser de júpiterser tempestuoso e ainda assim atrair até luas;queria ser de júpiterser conhecidae não conhecer. Qual a parte mais fácil e mais difícil da escrita para você? A parte mais fácil é buscar inspiração nos pequenos detalhes, nos retalhos da vida. Já a mais difícil é a exposição, o processo do julgamento. É daí que vem o nome do livro, inclusive. É claro que todo autor quer que os leitores se identifiquem de alguma forma com a sua obra, com os seus escritos. Mas eu morria de medo de que alguém tomasse as dores do que leu nas minhas palavras. Com o tempo, decidi que isso não podia mais me paralisar, muito pelo contrário: se a carapuça ia servir a alguém, que fosse. Qual sua obra favorita de outro autor(a)? Neste momento, só consigo pensar em “Corpo Desfeito” da Jarid Arraes e em “A pequena coreografia do adeus”, da Aline Bei. Um livro de Giulia Amendola Nome da obra? carapuça. Quando e em qual editora foi publicada? Janeiro de 2023, de forma independente. Existe um tema central nos seus poemas/poesias? Qual? É uma mistura do que a gente passa quando vai entrando na vida adulta… as angústias de reconhecer responsabilidades inadiáveis, de inícios e fins de relacionamento, o luto de perder entes queridos. As poesias são divididas em fases nessa obra? Não são… O que te incentivou a escrever esse livro? O que me incentivou a escrever carapuça, sem dúvida alguma, foi o fato de eu não conseguir mais adiar um sonho. Algo que parece que eu nasci para fazer. O incentivo foi aquela cosquinha dentro do peito. É possível destacar uma poesia que mais se assemelha a seu cotidiano? “acerta o sal”. A sequência dos poemas conta alguma história? Não. Eles não estão em ordem cronológica e se misturam em tema, essência e sentimento. Existe algum posicionamento político ou cultural na obra? Não. Apesar de acreditar que toda arte é política de alguma forma, seria extremamente prepotente da minha parte colocar o carapuça nessa seara. Acho que ainda é necessário um certo amadurecimento meu, enquanto artista, para me colocar nessa fundamental prateleira. Qual a relevância dos personagens implícitos/explícitos da obra? Não sei se essa pergunta se aplica. Qual a poesia mais marcante desse livro? Para mim, com certeza é a “é de júpiter”, citada na outra resposta. A