A criança, aquela. Quando começou a envelhecer, a perceber que crescia em meio a essa disritmia, sabia que seria assim. Passaria a vislumbrar a inconsequência juvenil como única saída diante da ordinarice ao redor. Ou melhor, alimentaria descontroladamente a criança enfastiada e farta que, ele sentia, ainda resistia. [Texto de Eduardo Frota]
Categoria: Eduardo Frota
Eduardo Frota é jornalista, escritor, barista, cinéfilo e ex-bonito. Escreve de texto institucional a bilhetinho de amor. Escreveu um livro de parágrafos, publicado pela Editora Jaguatirica, entitulado “Aqui jazem romances“. Escreve sobre café para diversas publicações do setor. Escreve sobre jiu-jitsu para a Gracie Mag. Escreve sobre o que faria se ganhasse na Mega-Sena: compraria uma igreja evangélica e a transformaria em um cinema.
O vento alinhavou as entrelinhas de Maria
João nunca saberia, pois Maria havia deixado aberta uma janela, justamente a da cozinha. A ventania, como um poeta em agonia, tratou de se livrar do bilhete. Acostumado a ler o jornal matinal, adestrado a dobrar e desalinhar com avidez a seção de esporte e o noticiário policial, ele nunca colocara os olhos sobre Maria. [Texto de Eduardo Frota]
Nós, enfermos
Anticonvulsivante, antitérmico, anti-histamínico, ansiolítico, analgésico, anti-inflamatório, novalgina, codeína, morfina, antidepressivo, prednisona, soro fisiológico, metadona, fungicida, supositório de glicerina. Quimioterápico, homeopatia, terapia. O que não pode ser prescrito, nem deve ser manipulado, o que é curativo? O corpo aguenta a dose, retesa. Compaixão. Overdose dela. [Texto de Eduardo Frota]