A Se não for a bomba, então será o dia seguinte Revista Kuruma'tá, 3 de julho de 202028 de julho de 2020 Quando olharam para o céu e perceberam que aquele ponto escuro cortando o ar era uma bomba, houve pouco tempo para procurar abrigo. Havia sinais de que tudo corria, de que tudo perseguia o fluxo. Não levou uma hora, mas também não levou um minuto. Os segundos que se seguiram após o lançamento foram inclementemente mudos. Era possível ouvir as engrenagens dos relógios de pulso. O curso do tempo, a pausa para o autoindulto, um súbito arrebatamento, transes em súcubus. [Texto de Eduardo Frota] Continue Reading
A Um filme B Revista Kuruma'tá, 1 de julho de 202011 de março de 2021 Numa sexta-feira qualquer, Lara foi trabalhar como fazia todos os dias. Um dia normal em seu trabalho desprovido de qualquer glamour. Apenas mais uma burocrata fazendo o necessário para pagar as contas, enquanto sonha com uma mudança de carreira. Quem sabe um dia criava coragem de se mudar para Nova York e abrir um brechó virtual? Pensava enquanto preenchia mais uma planilha sobre custos de papel higiênico e produtos de limpeza para uma licitação com a qual não se importava. [Texto de Tássia Veríssimo] Continue Reading
A Um filtro de barro dentro de casa Revista Kuruma'tá, 25 de junho de 202020 de dezembro de 2020 Quando deu-se a pandemia e na sequência a quarentena no Rio de Janeiro, resolvi por em prática um ideia que há tempo vinha alentando: Comprar um filtro de barro. Sem saber do que viria pela frente e já de olho no colapso dos sistemas, pensei logo que poderíamos ter dificuldade de comprar água mineral. Como vínhamos de uma crise hídrica, por conta da contaminação do principal sistema de abastecimento do estado do Rio, beber água mineral tornou-se uma rotina, mesmo depois que o problema sentiu-se resolvido. [Texto de Toinho Castro] Continue Reading
A Desvirado pra lua Revista Kuruma'tá, 16 de junho de 202011 de março de 2021 Eu não, já me acostumei. A mãe sempre diz que nasci “desvirado pra lua”. Sei não. Desde a ocupação que teve lá na escola, tem uns colegas falando umas coisas diferentes, políticas, umas palavras difíceis, ainda não consigo entender tudo, mas fazem mais sentido do que as palavras da mãe. As pessoas acham que na perifa só tem analfabeto ou burro. É que só estudar não garante nada, não. Continue Reading
A Sonhei que acordava Revista Kuruma'tá, 7 de junho de 202028 de julho de 2020 Já com a manhã avançada eu andava pela casa. Morávamos, eu, Raquel e os gatos, num apartamento amplo, num velho prédio. Velho mesmo. Janelas de madeira, abertas, por onde entrava o sol matinal de um inverno. O prédio tinha quatro grandes apartamentos com piso de madeira, um piso antigo, descuidado. Móveis antigos, esparsos pela casa. E gatos. Muitos gatos circulando por ali. De repente me dei conta que não havia telas nas janelas e as portas, todas as portas estavam abertas. [Texto de Toinho Castro] Continue Reading