Temos hoje o privilégio de publicar esse grande poeta que é o Nonato Gurgel. Ele nos enviou um poema que a gente pode até dizer que é inédito, pois teve uma versão publicada somente na sua página naquela rede social.
Um poema porque João morreu. Um poema que responde, provoca e atiça.
E antes do poema queremos aqui dizer que, além de poeta, Nonato é acadêmico, professor universitário, versado em letras e literaturas. Escreveu o trabalho Luvas na Marginália, sobre a poética de Ana Cristina Cesar. Isso pra deixar claro o papel e importância da Universidade Pública!
Poema de Nonato Gurgel
Para João Batista Morais e Ana Paula Cruz
I
Uma pessoa conhecida
não distingue entre cantar, encantar e inventar um jeito de cantar
Uma pessoa conhecida
não reconhece, na diferença, as linhagens anti musicais, desafinadas, oba-lá-lá
Uma pessoa conhecida
não tem ouvidos ‘privilegiados’, não depura o silêncio, o canto zen, undiú
II
Uma pessoa conhecida
não vê ‘coisas que só o coração’: menos pode ser mais amoroso em várias línguas
Uma pessoa conhecida
não ouve na base da ‘nota só, bim bom, precisa’, o samba ‘vexame’, mistura de etnias
Uma pessoa conhecida
não segue a trilha desse ‘pouquinho de Brasil’ moderno que dá cria a cada geração
III
Uma pessoa conhecida
não gosta de chuva, nem gosta de sol, ‘vou te contar’
Uma pessoa conhecida
não ecoa a batida que afina o ouvido surdo do mundo
Uma pessoa conhecida
renega a voz anasalada do nordestino cheio de bossa
IV
Uma pessoa conhecida desconhece
que ‘melhor do que o silêncio só João’