Sonete-se com Eduardo Maciel

Texto de Toinho Castro


A melhor coisa é quando os livros caem nas nossas mãos, vindos do inesperado. Livros de poesia então, nem se fala. Aí me chega, via um papo no Messenger, do Facebook a dica de dois livros de poesia, assim, do nada, numa certa manhã… dois livros de poesia. Ou melhor, dois livros de sonetos.

Sonetos, vocês deveriam saber, é aquela forma clássica de poesia, de quatro estrofes, que surgiu na Itália mas que muita gente boa mundo afora fez uso brilhante. Leia-se, Shakespeare, Vinícius, Neruda, Florbela… Mas me veio o soneto mesmo por outra via, menos conhecida, por conta dos laços e histórias da minha família do Rio Grande do Norte. Auta de Souza foi uma poeta potiguar, nascida na cidade de Macaíba, em 12 de setembro de 1876. Publicou um único livro, Horto, que foi onde encontrei os primeiros sonetos que li, que amei. Fascinava-me a forma, a cadência e a previsibilidade das rimas. Meu coração meio que ansiava aquele jogo de encontros fonéticos e ritmos a cada verso.

Hoje, tantos anos depois, encontro-me lendo os livros SonetATO e SonetIMAGEM (Ambos pela Editora Autografia), de Eduardo Maciel, poeta que resolveu colocar, numa série de 7 livros, o soneto no microscópio, bailar com ele, invocar suas mais diversas encarnações, suas metamorfoses.

Cada livro tem 50 sonetos, sendo que no novíssimo SonetIMAGEM cada soneto é acompanhado de uma imagem, trabalhando o potencial imagético da poesia, a força visual dos versos. É um dança de significados, em que os pares, poesia e imagem, estão de mãos dadas, entrelaçando seus passos. Coisa linda, além de poeta ser fotógrafo e saber juntar as duas coisas assim, com essa consistência. A cada poema, a cada imagem, o autor vai nos dando uma aula sobre essa coisa linda, que por vezes parece esquecida, que é o soneto. Aprendemos suas formas múltiplas que surgiram com o tempo, as variações de sua estrutura e de como essas possibilidades são ricas e cativantes. Aprendemos que, para além do soneto clássico italiano (Com as rimas organizadas assim: ABAB / ABAB / CDC / DCD), existem o soneto mononostrófico, o sonetilho em redondilha maior, o soneto polar…. e assim por diante. Cada um com a descrição de sua estrutura e jogo de rimas. Assim enveredamos por esse universo riquíssimo que o poeta quer resgatar, trazer à tona. É uma abertura de portas.

A poesia de verso livre, moderna, contemporânea, muito nos ensinou, mas Eduardo Maciel, com talento de poeta, mostra que o rigor de uma forma como o soneto, ainda tem muito a nos entregar e, sobretudo, ainda tem muita surpresa e jogo de cintura.

Eduardo é um poeta de mão cheia, que não se contenta em ser didático. Ele quer que a gente conheça o soneto mas quer também que a gente sonhe, que a gente viaje e reflita. Sua poesia versátil é carregada de lirismo, humor, política e carinho, tudo rimado, metrificado. E o que te pode parecer um estrutura fechada acaba por mostrar-se uma liberdade.

Pensando nesses sonetos me ponho a pensar na arquitetura, esse misto de arte e técnica, em que sobre cálculos, precisões (métricas?!), engenharias, assenta-se a poesia. Uma dependendo da outra, uma sendo porque a outra é. Os livros de Eduardo Maciel, fotógrafo, poeta, definem-se nesse desafio, que ele lança a si mesmo e a nós, seus leitores. O desafio de alinhar forma e conteúdo como irmãs, companheiras de longa jornada. Desafio aceito, no aguardo dos próximos livros da série. Deu vontade de reler muitos sonetos que já li, a começar por Auta de Souza, os 20 sonetos de amor de Pablo Neruda, Flobela Espanca (O mundo, o que é o mundo, ó meu amor?!)… e deu mesmo vontade de escrever sonetos, encaixar sentimentos, visões e sonhos nessa forma tão antiga (Século XIII!!), precisa e bela.

Parabéns, Eduardo. Cativaste!


E a você, leitor do Rio de Janeiro que também foi cativado pelo projeto do poeta, fica o convite! Amanhã, 14 de setembro, tem Vernissage do poeta, apresentando SonetIMAGE, na Avenida Treze de maio, 47 – sala 2103 (Edifício Itú), centro, do Rio de Janeiro, das 14h às 17h!


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