Levando comigo a última estrela tropical – poemas de João Augusto

Poema de Toinho Castro


Sentado aqui, no meu canto de mudo em Vila Isabel, lendo esse livro lindo chamado A última estrela tropica – Volume 1: diálogos e sonho. Um livro de nome igualmente belo, desse poeta chamado João Augusto. Sendo sincero eu não sabia de João Augusto. Adoro como as coisas chegam até a Kuruma’tá. Nesse caso foi pelo messenger; uma voz amiga que soprou esse livro no meu ouvido, atiçou minha curiosidade e me abriu a porta para essa poesia que acabou, como toda boa poesia, por me surpreender.

Começa que o livro, o objeto livro, é uma beleza. Que edição bonita, bem cuidada, dessas que dá gosto ter nas mãos. Aí citações/epígrafes de Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto nos apontam o rumo dos sonhos que estamos a descerrar. É como um chamamento… Quando três poetas assim te chama, você vai.

E logo ali, uma página depois, chega João com seu verso que abre o livro: Não sei soletrar a palavra mundo/ Sem abrir nela uma rosa, uma infância. Eu também não sei, João! Será isso coisa de poeta? Uma conexão, uma lâmpada que se acende dentro da gente e nos guia através de um livro que nos cativa?

Ao longo de A última estrela tropical vamos reencontrando poetas, porque a poesia de João é um diálogo permanente com um panteão particular da poesia… Florbela Espanca, Orides Fontela, Maiakóvski, jorge de Lima! Não guiando sua mão mas possivelmente observando o evoluir de cada página, de cada poema-sonho. Assentindo o lirismo e uma linha de melancolia que a cada poema parece trespassar. Poemas-arquipélagos, feitos de versos que são como ilhas, algumas com escarpas vertiginosas.

Não vou aqui, pois como leitor não tenho esse desejo, destrinchar e explicar esses poemas que João põe no papel. Quando leio poesia me sinto não crítico, mas poeta também. Ao menos quando leio boa poesia. Peguei, pois, o livro e o carrego comigo, para os lugares onde vou, porque o livro de João me leva também a lugares. Leio:

A minha poesia nasce do que me emudece. E na mudez incontida, encontro o silêncio que me leva a outro sentido qualquer. Todo verso é uma forma de manipular distâncias. Estar perto do fim é estar longe de si. O homem será sempre o eterno começo.

Bebedouro, 1167 de janeiro de 2011

Poemas marcados com um GPS e datados me fazem viajar, no espaço e no tempo. Imagino Bebedouro, a cidade onde, no primeiro dia de 2011, um poema foi escrito e chegou até a minha atenção, quase nove anos depois. E assim a poesia percorre caminhos entre que a escreve e quem a lê. A última estrela tropical tem 50 poemas traçando esses caminhos, caminhos da alma, nesse livro que abre portas e janelas, como o vento.

Poesia, esse encontro. Fecho o livro sabendo que ele é circular e que outros poemas virão se inserir nesse círculo. Ponho o livro na bolsa e o retomo no ônibus indo para o centro da cidade. Converso com meu amigo Francisco Olivar, livreiro por 40 anos, com esse livro de poesia na cabeça e nas mãos. A cidade passa ao meu redor… São mais felizes os que enxergam na ausência, escreve o poeta. Levo esse verso comigo.