O destino de Jamerson

Texto de Toinho Castro


Montagem sobre foto de Lais Castro Trajano [ CC BY-NC-SA 2.0 ], utilizando foto de Eberhard Grossgasteiger

Jamerson olhou na direção do rio e se recusou a me entregar a bússola. Sabíamos, ambos, que suas esperanças eram vãs, mas nem por isso tive coragem de lutar com ele para tomar-lhe o artefato. Estávamos irremediavelmente perdidos, e o caminho que trilhamos era daqueles que se apagam logo atrás dos nossos passos. À nossa frente estava a longa curva do rio que tanto buscamos em nossos sonhos e pesadelos.

Sentados na beira do rio, observando seu volume arrastar-se sobre a terra, fomos obrigados a falar um com o outro pela primeira vez desde nossa última discussão:

— Você se entregou, desistiu… ou veio comigo só para tentar impedir-me no final?
— Não haverá final, Jamerson. Não encontraremos as luzes. O mundo está mudando e você precisa entender isso.
— Então vamos nos perder onde elas se perderam…
— Eu quero voltar, Jamerson. Nem quero me perder… aliás, você confia demais nessa bússola.

Ele começou a atirar pequenas pedras na água.

— Não há para onde voltar. Parece que você não sabe disso, somos tão indesejados quanto as luzes. Espantaram tudo, clarearam a noite… não há refúgio. Eu procuro as luzes porque quero seguir para onde elas seguiram, para onde ainda há espaço pra gente como a gente.
— Eu não sou como você Jamerson. E dizendo isso não quero te ofender, nem criticar. É verdade. Eu vim com a esperança de te resgatar, ainda que no último instante… não cruze o rio, Jamerson.

Sorriu…

— E afinal suas esperanças são tão vãs quantos as minhas