+ poesia de outono azul a sul Revista Kuruma'tá, 6 de novembro de 201910 de março de 2021 Poemas de Calí Boreaz Foto original de Calí Boreaz A poesia vai e volta, ressurge do lago inesperada. Vem na onda que quebra ali na areia, logo à nossa frente. Publicada aqui, pela primeira vez, no último agosto, retorna à Revista Kuruma’tá a poesia viva de Calí Boreaz. Dizer que Calí tem voz própria, sensibilidade… é nada dizer. Não quero cair das armadilhas dos adjetivos e elogios sem rumo. Deixo então aqui a sua poesia, que diz mais e melhor. São poemas do livro outono de azul a sul, um livro de beleza rara, ao qual eu também retorno sempre. …um roteiro poético de 8 anos de exílio — desejado — no Brasil, tendo como protagonistas o ser deslocado, e por isso mais atento, e mais disponível para o espanto, o artista traindo o burocrata, o amante que não consegue habitar o amor. é, essencialmente, sobre clandestinidade, sobre estar num lugar de erro — geográfico ou taquicárdico. fortaleza ver-te é o poema — a ver se te vêpor tempo que chegue para te verpor trás dos olhos quando ver-tefor invisívelver-te ouvir-te tocar-te imensa-mehá vento em amar-te e isso dispersa-mesangue para um lado átomos para outrosou o desencontro do meu corpoclamando que o reúnas em maior belezaobra de arte amar-tena infinita-metragem dos turning pointsque afortalezam o saber-me tuaainda queno buraquinho discreto que faço na noitemas é nesse buraquinho que se acoita o ato-luade me debruçar sobre o mundoe sobre o tempo — e me rir delesporque te conheci fóton isso era no tempo em quea luz de maio entravapontualmenteàs quatro da tarde naquelaavenida da Urca com aquelasoberba dourada bêbeda de américae se refratava nos recortesinsuspeitos dos troncos dos coqueirosdo alcatrão malemolentepara finalmente se alojarem algum indício corpóreode uma microexplosãoe durava quatro minutosprecisamente — a luz dos maios rotose logo mais à frenteo verde dos morrosa respirar nuvens isso era no tempoem que maio explodia e éramos jovensde nós — e logo esplendiapelos ralos tudo que escrevíamoscom luz pelos vidros seguro o pequeno espelho e o lápis de olho.como os girassóis em sua amarelitudenos fazem cócegas líricas semsuspeitarmos quetanto viço pode sernão um desbunde de lourice — maso grito de desesperopelo alimento-sol que rude lhes escapanum horizonte prateadocomo as cerejeiras em florda minha terrapodem estar nos entregandonão poemas de primavera — masos pomos extremos de uma agoniade uma maldição de imobilidadecomo a ilusão do canto dos pássarosque em verdade podem estarmurmurando de fome de vertigem de ventoenquanto em enlevoos escutamosassim eu traço belezaem meus olhos que nãote podem ver mais efeito kahlo kuleshov estou imóvelsuspeito que me tornei um quadrocom debrum de areia pequenas conchase pontas de cigarroà minha beira está o mar em marçoele desatentamente cospe nos meus pés. e atravésde mim desamarro o vendaval morse/ não escutes. ainda estou imóvelsobre mim-onde há uma constelaçãode abutres como uma indecisão boiandoaos fundos de mim-quando há a ficçãocitadina inacessívelentre o tempo da água e o destempero do asfaltoa destempo tento — ainda — criar poesia/ ay llorona / olhos negros /e crio silêncios. basaltos. silênciosa fazerem sala às tuas perguntasno horário nobre do despresentefaço um esforço — me recortodou um passo na via lácteameus pés imprimindo a marca de águae enquanto me arranco à imobilidade/ as tuas perguntas /a cidade se petrificabasaltos. silêncios. solidões acústicaspresas na véspera — ou num dia advindoa gastarem-se companhiano horário nobre da vida que é a fina presença da morteagarro com força a escuridãoe dou mais um passoo garoto de short azul na areia sentadoficou ali com o olhar perdido no desenho de um nomea cadeirante com o paninho de chão ao ar erguidoficou ali com a mão esperando os 4 reaiso velho de 88 anos cansado demaisficou ali com a expressão do primeiro estremecimentodo infartopasso por todos passando neutra por mim mesmavou direto à tua portaenquanto junto pedaços em morse amar-se em março um amor se maio ainda for tempo estou batendo. batendo: atendo? hora de vagar substrato da poesiauns restos de tardeainda boiandosobre o precipício ansiosodas horasa desorasum exílio costeirona costura de um sonhosob o ato da poesia (…) dez horasum vago lume se acende e eu vagamentesubo e trato da poesia a(l)titude o vento que seouve dentro:invento Mergulhe mais no universo de Calí Boreaz nos links: casa virtual http://www.caliboreaz.cominstagram @caliboreazcompre o livro outono azul a sul https://tinyurl.com/outono-azul-a-sul Sem categoria calí boreazLeituraLivroPoesiaPortugalRio de Janeiro