Quando penso no Recife Revista Kuruma'tá, 13 de novembro de 201914 de novembro de 2019 Poema de Toinho Castro Esse poema, com alguma modificação, foi publicado no Lendário Livro (Maio de 2017 – Editora Rubra), coletânea de poesia reunindo trabalhos meus e dessa turma de poetas: Aderaldo Luciano, Braulio Tavares, Nonato Gurgel, Numa Ciro e Otto Ferreira. É um poema que nasceu da minha agonia com a verticalização acirrada do Recife, do seu céu sangrado de arranha-céus. Mas onde resiste o Recife? resistirá? O que resta, que réstia da cidade onde cresci? Bem sabemos que não é possível deter as transformações do mundo, mas não deveriam ser essas transformações uma força destrutiva. Recolho em versos minha indignação e espero que minha voz reverbere, para que reste um Recife digno do Capibaribe e seus cais. Penso no Recifee já não há Recife.Mil anos se foram,mil anos derrubados;chão de assoalho,cobogó quebrado. Recife de ninguém,quarenta andaresde ninguém. Pra quê tanto? Recife se foi,sem horizonte;restou nem ponte.Só prédiospontiagudos,desalmadose edifícios. Rio sem margem,tudo à margeme no centroo concreto,revestido dissoe daquilo.Rebocoe mal acabamento.E garagens,para os carrospara os homens,de carro. Mas em becosse esconde,Recife se esconde,de fininho,disfarçado,pés molhados,do rio. Que rio? Que se foi o rio,já foi.Tudo aterro,tudo enterro,cidade cheia,de lápidesenormes,imensas,frágeis lápidesde cidade morta,soterrada,enterrada,sepultada,sem memória,sem lembrança. Somente rua,nem mesmo rua.Aurora sem aurora,cais sem caise nunca,nunca mais. A ImbiribeiraLeituraPoesiaRecifeRio CapibaribeToinho Castro