Experiência Copacabana #2

Texto de Experiência Copacabana


Às vezes, na correria do dia a dia, acabamos não dando o verdadeiro valor ao que está ao nosso redor. Não elogiamos ninguém que passa pelo nosso dia. Hoje eu parei e resolvi retribuir um pouco dessa energia boa que nos cerca. Enchi de elogios a máquina de autoatendimento do mercado aqui perto de casa. Agradeci por ela não me julgar porque estou bebendo um pouco demais e me alimentando pessimamente. Afaguei com carinho sua tela de touch screen, que por sinal é muito mais sensível e precisa que a do caixa eletrônico. Essa androide fascinante, além de ter um dos melhores leitores óticos de código de barras que eu já vi, também pesa precisamente as frutas e os vegetais. Ela faz um barulhinho delicioso quando você digita algo nela. Esses dias ela fez uma gentileza para mim. Ela fez questão de não me cobrar pela sexta cerveja que eu levei. Eu já to craque no movimento de fazer ela ler o código de barras da long neck. Depois de bater cinco ela simplesmente ignorou a sexta e me fez essa merecida cortesia. Agradeci e na hora de sair disse para o gerente que ela merecia o melhor que existe em matéria de manutenção e atualizações de softwares, para que ela nunca se torne obsoleta. Estou agora degustando minha cervejinha brinde e pensando em mundo dominado por máquinas. Que tipo de papel a gentil máquina de autoatendimento teria nessa sociedade? Espero que um papel de imenso destaque.

Sempre que eu penso em Copacabana no futuro eu não consigo ver nada de bom pro nosso bairro. Esses dias eu tenho feito uma dieta e toda hora que eu tenho fome, eu vou nos grupos dos bairros e fico lendo os comentários, até que eu esbarro com algum que de tão verminoso, me tira o apetite na hora. Um deles foi uma sugestão de uma moradora. Eu queria que ela me explicasse a logística por trás dessa ideia, mas tudo bem. Eu sei que ela não pensou nisso. Ela apenas quer. Basicamente assim:

Dona Stephany Brito – A prefeitura tinha que fechar e controlar todas as entradas de Copacabana e revistar as pessoas que forem entrando. Revistar todo mundo. Só assim poderá ter eventos populares no nosso bairro.

Com essa eu ri e aí acabou me dando fome. Fiquei imaginando essa logística no Ano Novo. Lanchas patrulhando a costa. Morros cercados. Aí nas entradas de acesso 20 mil funcionários e a polícia revistando as pessoas uma por uma. Cachorros policiais nervosos e armamento pesado. Maior fetiche da classe média copacabanense. Copacabana sitiada. Com entrada controlada. Putas só depois da meia noite. Áreas divididas. Favela evangelizada. Catraca nas praias. Ingressinho para entrar no Leme, perto do forte e no Arpoador. Áreas vip na praia! Isso passa sem dúvida na reunião da Associação de Moradores do Bairro como uma pauta pertinente. Ainda estão agitados essa semana e cheios e razão porque teve aquele corre-corre aqui no bloco. Enquanto isso estão tomando banho de água com merda e nadando na água com merda. Pagando caro na água mineral. Mas isso não faz tanta diferença assim para classe média. Por enquanto…

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