Meu coração eu sei por que bate feliz em SP

Texto de Eduardo Frota


Foto de Toinho Castro

Para Bia Cardenas


Toda vez que o avião toca o solo em Congonhas, este músculo dentro do meu peito, cuja função é bombear sangue para o meu corpo inteiro, bate intensamente duas vezes. Duas vezes.

Ao invés de uma sístole comum, uma enxurrada de endorfina é bombeada e encharca as veias em mim. É que ele percebe que está em São Paulo, este palco aberto onde ensaio um espetáculo toda vez que escuto, aqui dentro, aplausos silenciosos – feito aqueles nos quais os espectadores apenas estalam os dedos para não se sobrepor ao som ao redor. 

Ao invés de uma diástole corriqueira, corre por mim um impulso elétrico que provoca um arrepio intenso, daqueles prazerosos de se sentir. É que ele se dá conta de que a distância, aquela física mesmo, acabou de ser encurtada. E este abraço no qual cabe um mundo, terá apenas o comprimento dos meus braços, o que é suficiente para manter você perto, com todos os outros músculos fazendo força para que não acabe. 

São Paulo é mesmo especial. Você é mesmo especial.

Desde o primeiro dia em que me vi na cidade, ainda criança, percebi que era diferente. As cores, o clima, as pessoas, a temperatura das coisas. Sempre que vejo você, já um adulto feito, sua presença permanece em mim, suas cores, a temperatura do seu pescoço.

Encontrar o poema que mora por entre as ruas de São Paulo nem foi tão difícil. Foi, sim, um exercício de reconhecer que a minha casa está em mim, onde quer que eu vá. A minha janela está aberta. A paisagem, ainda incompleta. Mas os versos chegam aos montes, trazidos por ondas de endorfina e por horas de arrepios. Nem mais um pio: ei-lo, aqui.

O desenho do horizonte de São Paulo
As linhas de cima, as linhas de baixo
São diferentes
Das que foram traçadas nas alamedas
Que desembocam em ruas sem saída

É sobre não querer sair daqui
É sobre reaprender a colorir
Pois as cores que usam aqui
Não se repetem
Tintas, grafites, canetas permanentes
Que escrevem em mim
Indelevelmente, assim:

…a luz dos dias aqui encanta.
…o escuro da noite convida a uma dança.

Traçados, retas, curvas
Copio com esquadros os caminhos
Que me levam a querer voltar
Em um mapa no qual gosto de estar
Levemente, incompletamente, perdido

Um beijo apenas, para que não se perca
Tempo
Para contemplar como corre num sopro
Vento

Há um lirismo diferente
Uma rima a cada esquina
Talvez a cidade seja, ela mesma
Poesia
E se alguma coisa acontece, é uma arritmia
Dessas, dos amantes
Dessas, enormes
Visíveis do alto de um mirante