Texto de Eduardo Maciel
Olá, queridxs kurumateirxs!
Vim hoje trazer no dia da pátria um pouco da história de um seus maiores expoentes.
Um dos meus poetas preferidos é Augusto dos Anjos, que nasceu em 1884 no Engenho Pau d’Arco, atualmente no município de Sapé, Estado da Paraíba. Como muitos à sua época, teve sua primeira educação (o que hoje seria a educação básica) em casa, com o pai. Como era muito dedicado e como as letras sorriam para ele, acabou conseguindo vaga no Liceu Paraibano, onde viria a ser contratado como professor em 1908. Desde os sete anos de idade compunha, precoce e gênio que foi e ainda é.
Em 1903, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, formando-se em 1907. Em 1910 ele se casa com Ester Fialho.
Seu profundo e intenso apego pela leitura influenciaria muito a construção de sua obra, que abrangeu diversos estilos (incluindo-se aí sonetos) e que tiveram um viés de retratar o mundo de sua época, sob a sua ácida ótica.
Filosoficamente, acreditava ser impossível se conhecer a essência das coisas, apesar do seu claro entendimento sobre a evolução da natureza e da humanidade.
Um dos pontos principais para se compreender Augusto dos Anjos é o fato de ele acreditar – e refletir essa crença em sua obra, que a vida e a morte seriam simples fatos de natureza química e que a vontade pessoal deveria ser sobreposta por objetivos maiores. Cético, ele?
Não exatamente.
Augusto dos Anjos (e talvez esse seja um ponto de conversão com seu nome), tinha na Bíblia uma realidade espiritualista, tendo-a usado como contraposição aos preceitos iluministas na arte. Mas fez isso de sua própria maneira e ao seu estilo inconfundível, bastante agressivo no uso da letra. E o fez num momento de muita aceitação ao iluminismo. Talvez por isso muitos (eu incluso) o considerem pré-modernista e não propriamente um autor modernista, tal qual muitos o catalogam.
Sua escrita reflete a realidade que via ao seu redor, num contexto histórico, com a crise do modelo produtivo vigente à época, onde oligarcas viam ruir seu modo de produção pautado na escravidão de pessoas. Os ex-escravos, então vivendo livres e miseráveis, e seus senhores perdendo pujança a passos largos, certamente lhe serviram como inspiração. O mundo que ele representava era justamente esse, onde cada ser humano vivia sua própria tragédia, cujas culminâncias seriam o nascer e o morrer.
Para Augusto dos Anjos, apesar de toda sua consideração pela letra sagrada, a religião não era capaz de explicar o mundo e suas dinâmicas. Por isso, sua poesia foi feita usando-se de diversas ironias e sátiras contra o cristianismo e a religião de uma forma geral.
Mas não se enganem: o homem era repleto de antagonismos (e certamente isso é um dos fatores que o fazem ainda mais atraente quando se compara a pessoa com o seu eu-lírico), e em sua cidade natal, o escritor foi ligado à condução de reuniões mediúnicas e psicografia.
Dedicou-se também ao magistério após fixar residência no Rio de Janeiro, onde foi professor em vários estabelecimentos de ensino.
Se no Nordeste nasceu e no Rio se estabeleceu, veio a falecer em Minas Gerais, onde dirigia uma instituição de ensino, em 1914, aos parcos 30 anos de idade. Foi-se de pneumonia, o que era comum então.
Na casa em que morou durante seus últimos meses de vida funciona o Museu Espaço dos Anjos. Por outro lado, a antiga residência de Augusto dos Anjos em João Pessoa, é atualmente sede da Academia Paraibana de Letras.
Além de seu trabalho como professor e diretor de instituições ligadas à educação, publicava poemas em jornais da época (que funcionavam analogamente ao que hoje conhecemos como redes sociais), sendo o primeiro, intitulado “Saudade”, no ano inaugural do século XX.
Mas seria ele um poeta de periódicos “apenas”? Não chegou ele a publicar livros, que é o que a gente normalmente associa a escritores?
Em 1912, publicou seu ÚNICO livro de poemas, chamado “Eu”. Lindo, lindo livro!
E foi somente depois de morto que teve uma curadoria para compilar seus diversos poemas espalhados em um livro póstumo: “Eu e Outras Poesias”, incluindo poemas até então não publicados pelo autor.
Grande indivíduo, grande professor, grande poeta e grande fonte de inspiração. Esse é o Augusto dos Anjos que eu tanto admiro. Exemplo de coração rebelde pulsando suas críticas em versos.
E, pra fecharmos a quinzena com chave de ouro, meu soneto preferido escrito por ele:
“Apóstrofe à carne
Quando eu pego nas carnes do meu rosto.
Pressinto o fim da orgânica batalha:
– Olhos que o húmus necrófagoo estraçalha,
Diafragmas, decompondo-se, ao sol posto…
E o Homem – negro e heteróclito composto,
Onde a alva flama psíquica trabalha,
Desagrega-se e deixa na mortalha
O tacto, a vista, o ouvido, o olfato e o gosto!
Carne, feixe de mônadas bastardas,
Conquanto em flâmeo fogo efêmero ardas,
A dardejar relampejantes brilhos,
Dói-me ver, muito embora a alma te acenda,
Em tua podridão a herança horrenda,
Que eu tenho de deixar para os meus filhos!”
Inté, meus queridxs!
Ótima postagem! Estou realizando um trabalho e queria compreender mais do contexto social, e trouxe isso muito bem