O sertão virou mar

Texto e poema de Toinho Castro

Hoje, no dia das professoras e professores, quero homenagear um mestre que se foi, o querido amigo, e parceiro literário, Nonato Gurgel, que nos deixou em 5 de julho, numa madrugada. Nonato era professor, poeta e escritor.

Hoje suas cinzas serão jogadas ao mar, numa cerimônia de afeto, a qual não poderei comparecer mas que acompanharei de longe, conectado pelo coração. Deixo aqui, dedicado a ele neste dia, uma poesia que certamente não está a altura do que ele escreveu, mas que vai ao seu encontro, numa conversa possível entre amigos.

Obrigado, nonato. aprendi contigo a delicadeza.

Foto de Toinho Castro

O Sertão vai virar mar
proclamou conselheiro
sem saber que falava
desse dia de outubro
em que o poeta nonato
tem as suas cinzas
jogadas sobre as ondas
do atlântico

morto, não tomou
conhecimento o poeta
de que a profecia
nele se realizaria
soprado que foi
desde caraúbas
por sobre o território
brasileiro
até essa praia
no rio de janeiro

de onde agora
se espalha
onde agora se mistura
a essa água
que em milhões de anos recuou
deixando no chão do sertão
vestígios fósseis
de criaturas marinhas

se hoje eu e nonato
pudéssemos conversar
falaríamos sobre essas coisas
sobre o sertão e sobre o mar
sobre a vida incrustada nos lajedos
sobre a profecia de um sertanejo
sobre a poesia
que é esse lampejo
indecifrável

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