Texto de Eduardo Maciel
Olá, kurumateirxs!
Fiquei um bom tempo refletindo sobre meu texto para essa quinzena. Não por não ter o que dizer ou o que contar, mas porque são muitos os “causos”.
Finalmente resolvi contar pra vocês minhas impressões (ou melhor: reações) a um documentário que assisti recentemente sobre o nosso papel, enquanto humanos, na indústria das redes sociais.
E isso me leva a falar da internet, já que é nesse palco que as redes acontecem.
Pois bem… Quando eu nasci, em 1978, nada disso existia. Minha infância foi recheada de brincadeiras e traquinagens, improvisos e imaginação, fraldas de pano, pipas e peões, bolinha de gude e muitas conexões reais, personalíssimas.
Talvez por isso eu tenha amigos de infância até hoje, e agradeço muito por isso.
Depois, já em plena adolescência, demorei a ceder às primeiras redes e comunidades online: em grande parte por resistência pessoal mesmo, e em parte por incentivo de pais e professores, já que a internet era algo não assim tão acessível a todos e eu precisava manter total foco em meus estudos.
Só que esse “universo paralelo” foi se avolumando, e emulando praticamente todos os formatos relacionais que temos aprimorado desde a idade da pedra. Comércio, ensino, vida financeira e até mesmo sexual e afetiva: para cada humanidade, uma simulação online. Tanto e em tal proporção que recentemente resolveram nos alertar que somos produtos em circulação, gado mesmo, levados de lá pra cá pelos tais algoritmos que eu nunca tive o (des)prazer de conhecer pessoalmente.
Não pretendo aqui examinar o assunto, nem me aprofundar nele. Quero apenas me posicionar, contar pra vocês o que penso e (espero) te convidar à mesma reflexão.
Já sei: provavelmente vocês esperam de mim um discurso eloquente e saudosista, de quem viveu pelo menos uns quinze a vinte anos sem celular e conexão remota. Se esperam isso, hão de se decepcionar. E eu explico…
Seria no mínimo equivocado de minha parte ignorar a realidade, que é sim irreversível, e da qual não podemos escapar. E de certa forma, que bom que não podemos, ou a leitura desse texto (assim como a sua publicação) não seriam viáveis.
Uso a internet para diversas coisas que me trazem comodidade, rapidez e graças a ela consigo alcançar coisas, pessoas e conhecimentos que talvez não tivesse no modo antigo. Sou grato por isso.
Uso também as redes sociais para trabalhar e divulgar o meu trabalho, em um perímetro extremamente mais amplo do que eu poderia fazer no modo antigo. E sou ainda mais grato por isso.
Eu sei… Vocês podem estar se questionando sobre a minha cara de pau de vir aqui nesse espaço de vanguarda que é a Kuruma’tá falar que não tenho medo algum da internet, das redes sociais e tudo o que as acompanha. De certa forma concordo com vocês.
Porém, o cerne da coisa não é discutir aquilo que é inexorável é irreversível. É eivar esforços em pressionar, enquanto sociedade, nossos governos a adotar freios e contrapesos, regulações e regramentos, de ordem pública, para a proteção dos cidadãos. E, de igual forma, pensarmos em como essa coisa toda afeta a nossa vida, separando o que é bom do que não é, bem racionalmente, para que com isso possamos fazer eventuais ajustes e escolhas qualificadas.
Tenho lido textos e conversado com pessoas sobre esse tal documentário, feito pelos “criadores do monstro” nos alertando sobre seus perigos. A velha história do Frankenstein, recontada.
Gente que está considerando deletar suas redes sociais, que está se sentindo usada, que está temerosa sobre seus dados na rede disponibilizados. Leio e escuto tudo com o máximo de empatia, e me solidarizo porque muito me preocupam as próximas gerações, que, ao contrário de mim e meus contemporâneos, não terão outro paradigma para comparar.
Mas não me iludo não. Por acaso algum naïf aí acha que os carros vão sumir? Que as geladeiras hão de desaparecer? Não vão. E se forem, apenas serão substituídos por outras versões (mais evoluídas) de si mesmos.
Então o que faço, afinal? Qual o derradeiro resultado das minhas divagações e pensamentos sobre esse assunto?
Acho que devemos em algum momento parar, nos desconectar e refletir:
- Como eu uso a internet e as redes sociais?
- O que eu alcanço de comodidade?
- Onde estou emulando relações reais em ambientes fantasiosos e pouco críveis?
- O que eu poderia deixar de fazer na internet e voltar (ou passar) a fazer na vida real?
- Quanto tempo a internet e as redes sociais demandam de mim?
Feito isso, já podemos nos reconectar com mais autoconsciência, sabedores de que sim, tentam nos robotizar e nos induzir a comportamentos, como um algoz em um relacionamento abusivo. Mas, no fim das contas, tudo acaba se resumindo em uma relação entre A e B, onde o A é o mundo virtual que quer usar você, e o B é cada um de nós, só que num embate pessoal.
E assim sendo, acaba o problema: afinal, quando um não quer, dois não brigam, não é mesmo?