A poesia de Jéssica Iancoski Revista Kuruma'tá, 4 de março de 202111 de março de 2021 Mesmo em tempos duros, talvez até principalmente em tempos duros, a poesia dá um jeito de chegar à nossa porta, ou à nossa caixa de e-mails. Foi assim que nos chegou a poesia de Jéssica Iancoski. Depois de uma troca de mensagens e ideias que foram ficando pra depois, no vácuo estranho das coisas por fazer. Passado algum tempo, que sempre parece muito tempo nesses tempos duros, Jéssica nos endereçou poemas; a melhor maneira de retomar uma conversa. Deixemos, pois, para que não fique para depois, que a força da poesia de Jéssica Iancoski chegue até você, como veio a nós. inesperadamente. ADVÉRBIO a palavra é avermelhadatalvez carnívora e pouco reflorestadavale mais extirpadada terra do âmagoe do ventre esmirrado dos homens a palavra é servida crua e exploradaao pé de mesas de paubrasíliamaracutaia estripadaestrupício estropiado solimões, urucum,cachaça de jambucolorau guaranáburiti pupunhapirarucu tucunaré a palavra é tinta genocidae des-mancha facilmente o advérbiopororocas levantando sangue de verbojorrando brasis sem modo,com intensidade, lugar e tempoe demasiada negação des-matada,macunaíma desvairada. ÚLTIMAS NOTÍCIAS DO BRASIL E DOS BRASIS a terra vai se rebelaras florestas precisam ficar em pé”diz cacique Raoni carnaval de pandemiatem praias cheias,vejam fotografias : tambaba guarita tabatingaimbé moreré tupécuruípe xangri-lá camburímaracajaú taipu embaú a doença não existeafirma turista no litoral sul é só soja e boi soja e boié só soja e boifunai é ruralista Aruka, último do povo Jumamorre vítima da pandemiaem Xingu ação de imunizaçãona base Diauarumcampanha antivacina nas aldeiaspreocupa liderança indígena turismo caibanhistas batem recordetrocam blocos por praias lotadasevitam máscaras enão massacres “quando a árvore fica em pé,faz sombra e fica friofaz sombra e fica frio”fica frio. nadar nadar nadare morrer na praia na praiae nada e nadaaglomeração piarafuturo incerto paira sobre vidase idas à praia à praiapegar jacaré genocídiopresidente de biquínitoplesse morre o índio. NÃO É UM CANTO, É UM LAMENTO criam boi em terra indígenaplantam soja em área ilegaldesmatam até a última penatiram o couro do solo animal é uma pena é uma pena é uma pena, um vendaval,um coro, um lamento de avesno desmatamento tropical Ararajuba Arara Arapará Japim Japu Juriti-PupuSaurá Suiriri SurucuáUdu Urubu Uirapuru É só soja e boi soja e boiÉ só soja e boi soja e boi — garimpo ogro é o agro — negócios. IBIAPINA No ibi há MacabaEmburi Indaiá Guirá que pia Não é só sabiá : tem Jacu MacucoMaritaca Tangará vida com mais potirase não fosse Ibiapina é uma pena é uma pena a Ibiapina a Ibiapina a Ibiapina Jéssica Iancoski é escritora, poeta e artista plástica. Publicou em várias antologias e revistas, nacionais e internacionais. Teve o poema “Rotina Decadente” reconhecido pela Academia Paranaense de Letras, aos 16 anos de idade. É idealizadora do Toma Aí Um Poema – o maior podcast lusófono de declamação de poesias, segundo o Spotify – com mais de 40 mil ouvintes diferentes, ao longo do tempo. Nasceu em Curitiba em 10 de Fevereiro de 1996. É formada em Letras pela Universidade Federal do Paraná e em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. A Poesia
Posso considerar que a Jéssica e seus poemas tem sido uma das melhores ‘descobertas’ neste tempo tão sombrio. Uma verdadeira luz intensa em meio a escuridão. Responder