O Gumberú (Megalogaster repercussus.)


Do livro Fearsome Creatures of the Lumberwoods: With a Few Desert and Mountain Beasts, de William T. Cox, editado em 1910 — Ilustração de Coert Du Bois.

O livro de William T. Cox, reúne lendas e relatos de estranhas feras que habitavam as regiões madeireiras do norte dos Estados Unidos e Canadá.

Sendo esta uma tradução livre, sugestões de ajustes e mesmo correções são bem-vindas. A ideia é traduzir todo o livro. Se for um trabalho coletivo, tanto melhor.

TRADUÇÃO LIVRE DE TOINHO CASTRO


Na neblinosa região ao longo da costa do Pacífico, de Grays Harbour a Humboldt Bay, existe um tipo de criatura que tem causado muito aborrecimento nas madeiras. Este é o Gumberú, o qual, felizmente, é de tal raridade que só muito de quando em quando é visto. Acredita-se que permaneça, o Gumberú, escondido, a maior parte do tempo, na base de enormes cedros queimados, de onde ocasionalmente sai em assustadoras expedições de saque. Durante esses períodos de atividade, a fera está sempre faminta, a devorar qualquer coisa que encontre e pareça comida. Um cavalo inteiro pode ser comido de uma vez, distendendo o Gumberú suas proporções, mas falhando em aquietar sua fome ou mesmo a causar-lhe o mínimo desconforto.

Os espécimes avistados eram tidos negros como carvão, mas há que se atribuir a terem sido manchados pela madeira carbonizada dos cedros. Em tamanho, corresponde a fera, quase, a um urso preto, pelo que pode ser confundida, não fosse o fato de que o Gumberú é quase sem pêlos. Certamente que possui sobrancelhas proeminentes e alguns pelos longos e eriçados no queixo, mas o corpo é liso, resistente e brilhante, sem apresentar uma ruga sequer. O animal é um infatigável viajante na busca por comida. Não é veloz, no entanto, nos movimentos, e nem um pouco se incomoda com a presença de inimigos. Esta última característica explica-se facilmente pelo fato de que nenhum outro animal, dentro de seu alcance, jamais encontrou um método bem-sucedido de atacar um Gumberú ou algum ponto vulnerável de sua anatomia. O que quer que acerte a fera, resvala com a mesma força. Sua pele elástica arremessa de volta, com igual facilidade, o alce e a irada vespa. Uma pedra ou gancho lançados na criatura salta de volta em quem os jogou, e uma bala disparada contra sua pele, certamente acertará o caçador entre os olhos.

É crença que a escassez dos Gumberús deva-se à sua natureza combustível e à predominância dos incêndios florestais. O animal queima como celulóide, com força explosiva. Com frequência, durante e depois de um incêndio florestal nos pesados cedros, perto de Coos Bay, os lenhadores insistiam ter escutado relatos de ruídos, muito diferentes do som de árvores caindo, e detectaram o cheiro de borracha queimada no ar.


Texto original

THE GUMBEROO (Megalogaster repercussus.)

In the foggy region along the Pacific Coast from Grays Harbor to Humboldt Bay there ranges a kind of creature that has caused much annoyance in the lumber woods. This is the gumberoo, which, luckily, is so rare that only once in a great while is one seen. It is believed to remain in hiding most of the time in the base of enormous, burned-out cedar trees, from where it sallies forth occasionally on frightful marauding expeditions. During these periods of activity the beast is always hungry and devours anything it can find that looks like food. A whole horse may be eaten at one sitting, distending the gumberoo out of all proportions, but failing to appease its hunger or cause it the slightest discomfort.

The specimens seen are reported to have been coal black, but that may have been due to their being smirched with the charred wood. In size the beast corresponds closely to a black bear, for which it might be mistaken only for the fact that the gumberoo is almost hairless. To be sure, it has prominent eyebrows and some long, bristly hairs on its chin, but the body is smooth, tough, and shiny and bears not even a wrinkle. The animal is a tireless traveler when looking for food, but is not swift in its movements or annoyed in the slightest degree by the presence of enemies. The latter characteristic is easily accounted for by the fact that no other animal within its range has ever found a successful method of attacking a gumberoo or a vulnerable spot in one’s anatomy. Whatever strikes the beast bounds off with the same force. Its elastic hide hurls back with equal ease the charging elk and the wrathy hornet. A rock or peavey thrown at the creature bounds back at whoever threw it, and a bullet shot against its hide is sure to strike the hunter between the eyes.

It is believed that the scarcity of gumberoos is due to their combustible character and the prevalence of forest fires. The animal burns like celluloid, with explosive force. Frequently during and after a forest fire in the heavy cedar near Coos Bay woodmen have insisted that they heard loud reports quite unlike the sound of falling trees, and detected the smell of burning rubber in the air.