A cantada carioca de Claudia Castelo Branco

Texto de Toinho Castro


Passando distraído pelas ruas agitadas e algorítmicas da internet, fui surpreendido por uma cantada!

Disco não é novidade para a pianista Claudia Castelo Branco. Cinco desses registros ela já gravou, com a também pianista Bianca Gismonti, como Duo Gisbranco, e um utro com o guitarrista e compositor Marcos Campello. Mas o recém lançado Cantada Carioca (Já disponível no Spotify) é sua primeira aventura solo. A palavra aventura implica em movimento, agitação, sustos, surpresas, mas o disco de Claudia é uma aventura íntima, pra dentro, enredada na alma e transcrita com delicadeza, leveza e fina inspiração, em onze canções, pra que a gente possa aventurar-se com ela; como ouvintes, a bem da verdade. E que coisa boa escutar esse disco, que coisa boa uma cantada assim, carioca, ao som piano e do talento dessas mulheres, cujas canções que Claudia reuniu tão sob esse recorte, da mulher carioca, seja porque aqui nasceu, ou porque fez do Rio sua morada, seu coração.

Concebido e gravado, em casa, durante o período de isolamento da pandemia (que não, ainda não acabou!), Cantada carioca se debruça sobre uma produção não só feminina, mas também independente. Essa é uma das grandes forças do disco, seu encantamento, revelador que é do tanto que se faz de música boa fora do dito maistream. Outro dia a Kuruma’tá postou, no Instagram, o seguinte recado: A melhor música brasileira hoje é produzida por mulheres. Esse é mais um disco que atesta isso de maneira precisa. Tanto pelas músicas escolhidas, quanto pela própria Claudia e seu piano.

Aí tem a outra força do disco. Nele, voz e piano se bastam de tal maneira, que bem podemos ouvir como duas vozes, que se entrelaçam indistintamente, numa dança, numa conversa caprichada e caprichosa. Deliciosa. A voz e o piano como estrutura mínima, cristalina, a sustentar a riqueza que vai nascendo de cada canção. Que coisa boa, gente. É daqueles trabalhos que você coloca a primeira faixa pra ver qual é, e não consegue mais parar, não consegue escapar da espiral que vai te erguendo, te animando (de anima, alma!) e descortinando um cenário incrível que vem remodelando a música brasileira.

Claudia Castelo Branco tá de muito parabéns com esse trabalho. Cantada carioca é disco pra tocar em casa, como foi feito, naqueles dias de sossego ou pra sossegar; pra tocar no fone de ouvido no sacolejo do ônibus, do trem rumo ao subúrbio, ou com a gente que a gente ama. É uma belíssima resposta, no meio dessa pandemia, à escuridão que insiste. Uma luminosidade para esses dias difíceis, e para os bons dias que virão e que até lá, vão se enxerindo em meio ao caos, pegando carona nas artes, nos afetos, nos encontros.


MÚSICAS E MULHERES NA CANTADA CARIOCA DE CLAUDIA CASTELO BRANCO

1_ Céu de gêmeos (Belliza Luar)
2_ Brejeira flor (Ilessi e Simone Guimarães)
3_ Ledo engano (Elisa Fernandes)
4_ Miragem de Inaê (Anna Paes e Iara Ferreira)
5_ O adeus (Marcela Velon e Aluízio Elias)
6_ Tem dor (Bianca Gismonti e Claudia Castelo Branco)
7_ Concha (Gabi Buarque e Angelica Duarte)
8_ Eta (Maíra Freitas e Edu Krieger)
9_ Breve (Aline Gonçalves e Vovô Bebê)
10_ Nau dos meninos (Carla Capalbo e Tuca Zamagna)
11_ Pra acordar (Paulo Monarco e Suely Mesquita)


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